Saúde do futuro

Com o aumento crescente da expectativa de vida mundial, não vai demorar muito para termos uma população predominantemente idosa. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o número de pessoas com mais de 65 anos deve triplicar até 2050. 

Se por um lado o aumento da longevidade é uma notícia a ser comemorada, por outro, ele traz uma série de preocupações de ordem econômica e social. Como arcar com os custos de previdência e saúde suplementares? Como garantir assistência médica eficiente e qualidade de vida para tantos idosos? 

Diversos países, sobretudo os mais desenvolvidos, já estão atrás de respostas. Alguns, como os Países Baixos, começam a investir pesadamente em tecnologias na área médica.  

Mapa Países Baixos
Os Países Baixos serão dos mais afetados pelo envelhecimento populacional. (imagem: Alphathon/ CC BY-AS 3.0)

Imprecisamente chamados de Holanda – as Holandas do Norte e do Sul são duas de suas 12 províncias –, os Países Baixos respondem pela sexta economia da Europa, por quase 17 milhões de habitantes e uma das maiores expectativas de vida do mundo. Apesar do quadro invejável, serão dos mais afetados pelo fenômeno do envelhecimento populacional. 

O orçamento anual de saúde do país – hoje em torno de 70 bilhões de euros – cresce entre 6% e 10% a cada ano, mais do que a sua economia. Com o aumento do número de pacientes idosos e, consequentemente, da demanda por mais serviços e tratamentos, não será possível sustentar o setor. 

Além das dificuldades financeiras, os serviços de saúde dos Países Baixos devem enfrentar, diante do novo quadro, uma defasagem de pessoal. Estimativas apontam para um déficit de 40% no número de enfermeiros e equipes médicas em 2020.

 

O desafio holandês

Diante das projeções preocupantes, o Ministério da Saúde, Previdência e Desporto do país propõe uma mudança substancial na assistência médica holandesa, cujo ponto de partida seria o posicionamento do paciente no centro do sistema.

“É preciso pensar e agir do ponto de vista do doente”, afirma Hans Haveman, consultor de tecnologias da informação e de inovação do ministério. “Temos que construir um modelo de assistência participativa baseado na comunicação, interação e autogestão da saúde”, completa.

“É preciso pensar e agir do ponto de vista do doente”

A proposta do ministério inclui ainda grande estímulo à inovação e à chamada e-saúde – assistência de saúde baseada em processos, dispositivos e comunicação eletrônicos. “Nesse campo, as aplicações são inúmeras”, diz Haveman. 

Mas o consultor defende que as novas metas impostas à saúde só serão alcançadas se houver uma intensa colaboração entre todos os atores envolvidos no setor – pacientes, profissionais de saúde, seguradoras, universidades e empresas. 

 

Alternativas inovadoras

Tudo indica que a vontade e os incentivos políticos estão em sintonia com os interesses públicos e privados nos Países Baixos; tanto é que a união de esforços na área de saúde já está rendendo frutos importantes em diversas frentes. 

Iniciativas voltadas à prevenção incluem o recém-lançado site Teste de Risco para a Saúde, onde é possível calcular o risco individual de uma pessoa desenvolver 28 doenças crônicas.

Em termos de diagnósticos, esforços direcionam-se a procedimentos mais eficazes, ágeis e indolores, como o método desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Twente, em Enschede, para o exame de câncer de mama. A mamografia fotoacústica, ou seja, à base de luz e som, está sendo testada em centro médico local.  

Um detector de microrganismos e biomarcadores portátil, desenvolvido pela Ostendum – empresa incubada na Universidade de Twente –, também poderá contribuir para diagnósticos mais rápidos e precisos. O equipamento é capaz de detectar, em apenas alguns minutos, a presença de vírus, bactérias, proteínas e segmentos de DNA em pequenas amostras de água, alimentos e sangue. 

Surgem ainda novas possibilidades no campo da reabilitação motora, como o robô Lopes – concebido também na Universidade de Twente –, que auxilia fisicamente e monitora eletronicamente a recuperação de vítimas de acidente vascular cerebral, e os sensores portáteis da empresa Xsens, que permitem o acompanhamento médico, à distância e em tempo real, dos movimentos de pacientes em recuperação. 

Assista a um vídeo do robô Lopes sendo testado

 

Tecnologias para viver melhor, com segurança e de forma mais independente em casa, como robôs e eletrodomésticos inteligentes, também despontam nos Países Baixos. Iniciativa consistente no setor é liderada pela instituição Smart Homes, em parceria com a Universidade da Tecnologia, de Eindhoven.  

Consultas médicas pela internet também estão nos planos dos holandeses. O Instituto Trimbos, especializado em saúde mental e dependência química, já oferece intervenções on-line. Batizada de saúde e-mental, essa opção se destaca por ser mais barata e atrair pacientes que não buscariam ajuda pelos métodos tradicionais. 

A maioria das alternativas e tecnologias médicas mencionadas está em fase experimental e depende ainda de alguns empurrõezinhos para deslanchar no mercado e atingir a população – sobretudo de parceiros que tenham interesse e recursos para investir em sua produção comercial. Mas já é um bom começo. 

 

 

Carla Almeida*
Ciência Hoje On-line

 

* A jornalista viajou para os Países Baixos a convite do Ministério da Economia, Agricultura e Inovação do país.