Sem remédio

Tema De cada mil artigos científicos publicados no mundo em farmacologia, apenas 15 são assinados por professores e pesquisadores do Brasil (o equivalente a 1,5% do total). O país nunca desenvolveu um medicamento da etapa inicial à final, de acordo com o chefe do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), João Batista Calixto.

Para ele, tal situação reflete a pouca tradição de investimento em pesquisa e desenvolvimento e a falta de interação entre as indústrias e a academia. “No dia em que os doutores universitários entrarem nas empresas eles mudam esse quadro”, afirmou Calixto em palestra sobre produção de fármacos realizada na Reunião Anual da SBPC.

Algumas dificuldades de investir na produção de medicamentos no Brasil são o longo tempo de maturação das pesquisas, as dificuldades para importação de equipamentos e os altos custos e riscos — obstáculos consideráveis em se tratando de um país cuja oferta de capital de risco é baixa. Entre os problemas na interação entre universidade e indústria apontados por Calixto, estão a burocracia universitária, a falta de pessoal treinado nas empresas para realizar o diálogo e o imediatismo dos empresários.

Além dos problemas internos, com a ampliação das exigências dos organismos regulatórios, o tempo e o custo de desenvolvimento de fármacos têm aumentado nos últimos anos. Mas os lucros também se multiplicam. O mercado farmacêutico movimenta no mundo cerca de 370 bilhões de dólares por ano e a tecnologia está concentrada em poucos países, começando pelos Estados Unidos, responsáveis por 36% da produção farmacêutica do planeta, e pelo Japão, com 19%, de acordo com o Centre for Medicines Research.

Atualmente no Brasil existem 250 indústrias de fármacos, 49 delas de capital exclusivamente nacional. Mas pela pouca tradição de investimento em pesquisa e baixa interação com as universidades, as empresas brasileiras estão perdendo espaço, de acordo com Calixto. “O país não merecia estar nesse grau de dependência tecnológica. Não basta ter cientistas só na academia”, afirma o pesquisador, comparando a produção científica com a aplicação.

Ainda no campo científico, o professor explica que o país precisa desenvolver a área de identificação de alvos terapêuticos (proteínas ou enzimas responsáveis por várias doenças), além de capacitar mais profissionais. Para possibilitar o avanço na indústria de fármacos, Calixto mostrou-se confiante na Lei de Inovação, que tramita no Congresso Nacional e promete incentivar a produção de novidades. “A lei tem seus defeitos e qualidades, mas é um primeiro passo no sentido de interação entre empresas e universidades”, avalia.

André Augusto Castro
e Luciana Seabra
UnB Agência
22/07/04