Dentro dos três maiores hotéis de Caxambu (MG) e do centro de convenções da cidade, intelectuais renomados das ciências sociais brasileiras se encontraram para debater os assuntos mais palpitantes da política e cultura mundiais. Tratava-se do 34º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).
Do lado de fora – no parque, nas escolas, no ginásio e até nas ruas –, tendas e salas de aula abrigavam um tipo diferente de encontro, voltado às crianças e jovens dos ensinos fundamental e médio das escolas locais: o TEM – Circuito de Ciência e Tecnologia, apelidado de ‘TEM Ciência’.
De 24 a 28 de outubro, foram 12 ‘estações’ espalhadas por Caxambu. Nelas, filmes, apresentações, atividades interativas, jogos e exposições levaram à região – onde não há nenhum museu – um pouco da cultura científica das universidades e instituições de pesquisa brasileiras.
Passeie pelo TEM Ciência no vídeo abaixo
O evento, idealizado pela Anpocs em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e com apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), foi fruto de uma longa discussão sobre o lugar das ciências sociais na sociedade e sua interlocução com o público.
“O nosso lema foi: só tem ciência a sociedade que tiver cultura científica”, explica a socióloga Maria Alice Rezende de Carvalho, presidente da Anpocs até outubro deste ano e uma das idealizadoras do evento.
“Queremos passar para as crianças e jovens de Caxambu que a ciência pode ser inovadora, divertida e lúdica”.
Uma ‘Flip’ de ciência
O TEM Ciência foi inspirado nos moldes da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Entre shows de física e química e animais empalhados, uma das atrações mais mencionadas pelo público era a célula gigante montada no Parque das Águas, ponto central da cidade. Dentro da célula, monitores explicavam às crianças e jovens como funciona o genoma humano.
Estudante fala sobre o projeto. Assista ao vídeo
As atividades e exposições eram organizadas principalmente por bolsistas de iniciação científica da USP e pelo Museu de Cravinhos (SP). Todos os dias, turmas e mais turmas de escolas de Caxambu e cidades vizinhas visitavam a feira. “A gente vem todos os dias depois da escola”, contou à CH On-line Bianca Nogueira, de 17 anos, aluna do 2º ano do ensino médio de um colégio particular da cidade.
De fato, o que mais se ouvia dos alunos e professores que visitavam o TEM eram opiniões positivas. Numa cidade carente de iniciativas que coloquem a ciência como ponto central, atividades aparentemente simples – como olhar em um microscópio – tomaram um significado mais profundo quando se ouviam os comentários animados das crianças.
Segundo a socióloga Maria Alice Rezende de Carvalho, a ideia é que o TEM Ciência se repita e cresça nos próximos anos do Encontro Anual da Anpocs. “No contato com instituições de pesquisa que trouxemos para cá, a ideia vigente era a de que a ciência não de faz sozinha. E isso é uma lição da sociologia”, explica.
Professora fala sobre o TEM Ciência. Assista ao vídeo
Isabela Fraga (*)
Ciência Hoje / RJ
(*) A repórter viajou a Caxambu a convite da Anpocs