Terapia com células-tronco tem bons resultados no Brasil

A terapia com células-tronco adultas em pacientes com acidente vascular cerebral apresenta bons resultados em cinco pacientes. Segundo a pesquisadora Rosália Mendez-Otero, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os estudos estão ainda muito no início e muitos testes ainda precisam ser feitos, mas a técnica não traz problemas.
 
Junto com Rosália, os pesquisadores José Geraldo Mill, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Carlos Alberto Moreira Filho, da Universidade de São Paulo (USP), traçaram durante a Reunião Anual da SBPC um panorama sobre os desafios e perspectivas das células-tronco – adultas e embrionárias – no tratamento de doenças.
 
Carlos Alberto Moreira Filho defendeu o uso das células-tronco adultas de cordão umbilical. Segundo ele, é muito mais barato ter bancos de cordão umbilical do que procurar doadores compatíveis de medula óssea. “No Brasil, três mil doentes necessitam de transplante de medula óssea e 1.700 destes não conseguem doadores compatíveis. No cordão umbilical a compatibilidade é muito maior. Com 12 a 20 mil unidades de sangue de cordão, atendemos cerca de 80% da população. Para atender o mesmo nível com transplante de medula óssea, precisaríamos de cinco milhões de doadores – e isso é impossível.”
 
Mas ele frisou que há questões desfavoráveis. “Com um cordão, podemos tratar pessoas com até 50 quilos, mas, como a compatibilidade é maior, há a possibilidade de se misturar as células de dois doadores. Para isso precisamos de bancos públicos de cordão.”
 
Ele afirmou que as pesquisas em terapias cardíacas são uma promessa, mas frisou que ainda não está claro como agem as células-tronco. Não se sabe se elas se transformam em células cardíacas, se se fundem com as células já existentes ou se liberam fatores que ajudam na recuperação do tecido, explicou.
 
Mas o mais importante, segundo ele, é continuar no caminho da pesquisa básica e aplicada para se chegar a um conhecimento maior sobre todos os tipos de células-tronco. “São necessários investimentos em pesquisas de biologia molecular e genômica. Há um longo caminho de pesquisa. Temos que ter equipes capacitadas para estudos focados em cardiologia, neurologia, oncologia e outros. Temos que ter o lado da pesquisa animal fortalecido. E equipes treinadas para realizar exames clínicos para realizar e planejar testes em humanos.”
 
Rosália concordou que ainda é longo o caminho pela frente, mas disse que muitos avanços estão acontecendo a cada dia. “O grupo do coreano Woo Suk Hwang deu um grande salto ao conseguir obter linhagens de células-tronco embrionárias por transferência nuclear. Isso acaba com a rejeição e com os problemas éticos, mas infelizmente no Brasil este estudo não seria possível.”
 
Segundo ela, o medo é que se tente a partir desta técnica fazer a clonagem reprodutiva. “Hoje, na Coréia, é proibido implantar este embrião no útero. Com apenas uma cláusula do código penal foi resolvido este problema.”
 
Mas Rosália lembra que a aplicação das células-tronco embrionárias tem barreiras ainda maiores do que no caso das adultas. Em um estudo realizado por seu grupo na UFRJ junto com o hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, cinco pacientes com acidente vascular cerebral receberam uma injeção de células-tronco na região afetada.
 
Ela admite que ainda não saber ao certo o motivo da melhora dos pacientes, mas garante que não houve problemas. “A terapia é segura e exeqüível. Sabemos que ela não faz mal. Esse é o primeiro passo. Ainda faremos testes com mais cinco pacientes e mais testes serão feitos, com o mesmo protocolo, por grupos na Bahia, Rio Grande do Sul e São Paulo.”
 
No mesmo hospital carioca foi realizado, em 2003, estudo inédito com 16 pacientes com cardiopatias. Segundo José Geraldo Mill, todos os pacientes tiveram significativa melhora. “Pacientes que estavam na fase 3 e 4, que não conseguiam subir oito degraus e viveriam em média mais dois anos, passaram para a fase 1 e 2 e saíram da fila de transplante. A melhora na qualidade de vida foi muito significativa.”
 

Encerrando o simpósio, Mill declarou: “Acho que as terapias celulares têm muito futuro. O século 20 foi da molécula, com a química e a criação de novos medicamentos. O século 21 pode ser o da célula, mas precisamos entender melhor a diferenciação e outras especificidades das células-tronco para tratar as doenças.”
 

Luís Henrique Amorim
Jornal da Ciência E-mail
22/07/05