Todos os anos fazemos retrospectivas sobre o que de mais importante aconteceu no mundo da ciência. Este ano resolvemos lembrar também um assunto igualmente importante, sem o qual as retrospectivas não seriam possíveis: a própria divulgação da ciência – compromisso que o Instituto Ciência Hoje (ICH) mantém há três décadas.
O ano de 2012 foi repleto de iniciativas, discussões e marcos de divulgação científica. Uma efeméride que com certeza não passou desapercebida foi justamente o aniversário de 30 anos da Ciência Hoje, a mais antiga revista de divulgação científica em circulação no país.
Para comemorar a data, foi montada no Rio de Janeiro uma exposição sobre a história da ciência e da revista, que depois seguiu para São Luís, onde foi exibida durante a 64ª Reunião Anual da SBPC na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O encontro científico bateu recorde de audiência este ano, com 25 mil visitantes registrados.
Foram realizadas ainda diversas atividades correlacionadas, como palestras e oficinas para crianças. Também foi lançado um documentário sobre a trajetória da Ciência Hoje, com depoimentos de seus fundadores e editores.
Mas as iniciativas de divulgação da ciência não pararam por aí. Em agosto, lançamos a série de vídeos para internet ‘CHats de ciência’ que já abordou temas como a relação entre hereditariedade e comportamento, o aquecimento global, as células-tronco e o câncer.
“Temos observado um interesse crescente do público pela ciência, mas a distribuição do acesso à informação ainda é muito heterogênea, em especial no Brasil”, disse o bioquímico Franklin Rumjanek, um dos diretores do ICH e coordenador do projeto. “O projeto ‘CHats de ciência’ pode ajudar a aproveitar esse ambiente favorável e diminuir o descompasso entre a demanda e a oferta de acesso a conhecimento científico de qualidade.”
Projetos mais antigos também conquistaram marcas significativas. Nosso podcast, o ‘Estúdio CH’, completou 100 episódios este ano. Já o Tumblr do ICH atingiu a marca de 100 posts publicados, chegando ao fim de 2012 como nossa rede social mais popular, com 36 mil seguidores: “números expressivos”, segundo Gina Gotthilf, que ocupou o cargo de gerente de internacionalização do Tumblr no Brasil até outubro deste ano.
Nossas atividades de divulgação da ciência e ensino foram reconhecidas até pela presidente da República. Em julho, o Programa Ciência Hoje de Apoio à Educação (PCHAE), que auxilia na formação de professores, recebeu das mãos de Dilma Rousseff o Prêmio ODM Brasil pela contribuição ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) estabelecidos pelas Nações Unidas.
“Há 30 anos, quando criamos o projeto da Ciência Hoje, não imaginávamos que ele iria dar tantos frutos; imaginei, sim, que ele seria eterno, que é o que fazemos quando somos jovens”, disse o neurocientista Roberto Lent, um dos fundadores da revista. “Felizmente, a Ciência Hoje confirmou o meu sonho de juventude e ainda foi além.”
Mas chega de falar de nós mesmos. Outras instituições também lançaram projetos de destaque na divulgação científica este ano. A Biblioteca Nacional começou a disponibilizar ao público acesso gratuito e on-line a sua hemeroteca, coleção de jornais, revistas, periódicos e boletins. Já estão digitalizados cerca de dois mil títulos, que quebram o galho de muitos pesquisadores e alimentam a curiosidade de leitores.
Na mesma onda, o Scielo, maior repositório de periódicos de livre acesso do mundo, lançou o Scielo Livros, site que reúne mais de 200 livros acadêmicos, principalmente da área de ciências humanas e sociais, como história, sociologia, filosofia, literatura, letras, educação e arte.
Já o Planetário do Rio de Janeiro lançou sua primeira produção audiovisual, o filme Fim do mundo, que desmistifica a tão comentada lenda de que os maias previram o fim do planeta para o dia 21 de dezembro deste ano (se você estiver lendo este texto significa que o filme estava certo).
Boa polêmica
Além das boas iniciativas mencionadas, o ano vivenciou algumas boas polêmicas na área de divulgação. Um delas veio se desenrolando desde o final do ano retrasado e só teve sua conclusão este ano. Foi o caso da descoberta da bactéria arsênica anunciada para a imprensa com pompa e circunstância pela Nasa, a agência espacial norte-americana.
A bactéria em questão, encontrada no Lago Mono, na Califórnia (EUA), foi tema de um artigo da Science que a descrevia como o primeiro ser vivo que não precisava de fósforo para viver e ainda substituía o elemento químico em seu DNA pelo tóxico arsênio. Inicialmente, a pesquisa foi divulgada pela grande imprensa de modo sensacionalista e sem questionamentos, mas logo surgiram especulações e dúvidas quanto à validade da pesquisa no meio acadêmico.
Cientistas ativos em redes sociais e blogues publicaram duras críticas ao estudo, apontando erros metodológicos e levantando a suspeita de má condução dos experimentos. Mas foi somente neste ano que veio a resposta final. Dois artigos publicados também na Science contrariaram os resultados da pesquisa original e deixaram claro que houve descuido e contaminação das amostras.
O caso serviu para mostrar como podem ser complexos e ardilosos os processos por trás da comunicação da ciência e que nós, jornalistas, temos que ter cautela. Que venha o ano que vem com mais desafios para a divulgação da ciência!
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line