Morreu na manhã do dia 30 de julho, na última terça-feira, o químico pernambucano Ricardo de Carvalho Ferreira, vítima de falência múltipla dos órgãos. Ferreira tinha 85 anos, muitos dos quais dedicou à ciência brasileira.
Um dos químicos brasileiros mais importantes de sua geração, Ricardo Ferreira foi autor de obra científica significativa no campo da química teórica, além de importante revelador de talentos no campo. Seu trabalho de maior destaque foi o cálculo das constantes de ionização dos ácidos oxigenados, em função da sua importante aplicação teórica nas pesquisas de química inorgânica.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), à qual estava vinculado desde 1954, decretou luto oficial de três dias pelo falecimento de seu professor emérito. “A UFPE lamenta profundamente a sua morte ao mesmo tempo em que se reconhece na história do professor Ricardo, que se confunde com a da própria instituição”, declarou o reitor da instituição, Anísio Brasileiro.
Colega de Ferreira na UFPE de longa data – ambos participaram da criação do Departamento de Química Fundamental da instituição, em dezembro de 1982 –, o químico Antonio Carlos Pavão compartilha aqui no ‘Bússola’ seus sentimentos em relação ao professor:
“Socialista convicto – militou comigo na Convergência Socialista –; mestre em tudo – podia falar com categoria sobre química, física, biologia, genética, história (em particular, sabia muito sobre a segunda grande guerra e sobre Benjamin Franklin), artes ou qualquer outra disciplina –; contador de histórias da ciência – escreveu, lecionou e contou inesquecíveis histórias da química –, de pessoas e da vida; extremamente generoso, desapegado até demais de dinheiro – nunca acumulou riquezas materiais e não vacilava em meter a mão no bolso para ajudar os outros, principalmente funcionários que necessitavam de algum –; amigo de todos – jamais conheci um desafeto –; intelectual, devorador de livros – uma vez lhe emprestei um livro e no outro dia ele me devolveu com comentários e correções sobre fatos descritos pelo autor –; tinha amigos ilustres – Pauling, Shenberg, Leite Lopes, Darcy Ribeiro… Certa vez, numa fila onde íamos assistir à peça de teatro Copenhagen, sobre o famoso encontro de Heisenberg e Bohr em 1943, ele me disse: “Sabe que eu conheci Bohr?” Depois acrescentou: “E quem me apresentou a ele foi o Feynman” –; marido, pai e avô adorado; enfim, um admirável homem bom. E não é porque morreu. Aliás, ele não morreu. Gente assim vive para sempre.”
Leia outros relatos sobre a morte de Ricardo Ferreira no portal da UFPE, na página da Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco na internet e no Diário de Pernambuco.
Confira ainda o perfil do químico na edição 44 da revista Ciência Hoje, de julho de 1988.