Um brasileiro dedicado à humanidade

Em agosto de 2003, o ataque de um homem-bomba ao quartel-general da Organização das Nações Unidas (ONU) em Bagdá (Iraque) fez 22 vítimas, entre elas o diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello. Quando soube do atentado, noticiado no mundo inteiro, a jornalista irlandesa Samantha Power, amiga do diplomata, decidiu que iria se empenhar para contar a trajetória desse carioca que estava se dedicando à humanidade em nome da ONU. O resultado está em uma rica e detalhada biografia recém-lançada no Brasil.

Quando chegou ao Iraque, em junho de 2003, Vieira de Mello, que era alto-comissário da ONU pelos Direitos Humanos, sabia que não traria soluções para a angústia da guerra. Mas, como carregava a experiência de ter visitado campos de refugiados em inúmeros países, ele tinha a certeza de que poderia ajudar a minimizar a tragédia gerada pelo conflito. No entanto, dois meses após sua chegada, o terrorismo interrompeu seus planos. Foi então que muitos brasileiros ouviram falar pela primeira vez do diplomata.

A biografia de Vieira de Mello – O homem que queria salvar o mundo – acompanha sua trajetória desde o nascimento no Rio de Janeiro até a morte no Iraque, sem deixar de lado o contexto político de cada época retratada. Power conduziu dezenas de entrevistas e reuniu informações para descrever com clareza todos os momentos da vida do diplomata, que desde 1969 trabalhava sob a bandeira da ONU.

A jornalista ressalta que Vieira de Mello não era somente um hábil e experiente negociador. Falava fluentemente português, inglês, francês, espanhol e italiano e era um dos diplomatas mais carismáticos e respeitados das Nações Unidas. Sua escolha para representar a Organização no Iraque não foi ao acaso. Ele foi nomeado pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e apontado como favorito pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.

Diplomata de campo
Filho de diplomata e formado em filosofia pela Universidade de Paris I Panthéon – Sorbonne (França), Vieira de Mello iniciou sua carreira no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, em Genebra (Suíça). Logo depois, partiu para sua primeira expedição, em Bangladesh. Power destaca que o diplomata visitava poucas vezes seu escritório na Suíça. Seu objetivo era estar nos países em conflito, em contato constante com a população, para descobrir a melhor maneira de ajudá-la.

Durante suas expedições, Vieira de Mello se adaptou a muitos desafios. Visitou países como Moçambique, Camboja, Ruanda, Bósnia e Timor Leste, sempre com confiança e inteligência – qualidades exigidas para todos os cargos políticos de relações internacionais.

Documentário
Além do livro, a vida do diplomata originou um documentário, produzido pela jornalista Simone Duarte. Sergio Vieira de Mello a caminho de Bagdá apresenta as mais importantes missões do brasileiro a partir de entrevistas com amigos, funcionários e secretários das Nações Unidas, que descrevem os passos do biografado.

Duarte mostra ainda a experiência bem-sucedida de Vieira de Mello no processo de independência do Timor Leste e descreve os últimos capítulos de sua história em Bagdá. O destaque é uma entrevista exclusiva com Kofi Annan, que relata, emocionado, sua admiração pelo brasileiro: “Eu só tinha um Sergio.” 

O homem que queria salvar o mundo – uma biografia de Sergio Vieira de Mello
Samantha Power (trad.: Ivo Korytowski)
São Paulo, 2008, Companhia das Letras
(11) 3707-3500 
667 páginas – R$ 59,00

Sergio Vieira de Mello
a caminho de Bagdá
Direção: Simone Duarte
São Paulo, 2005, Versátil Home Vídeo
(11) 3670-1960
56 minutos – R$ 37,90


Juliana Marques

Ciência Hoje On-line
30/09/2008