Uma auto-crítica do jornalismo científico

A ciência tem ocupado um espaço cada vez maior na esfera pública e, em especial, na mídia impressa e eletrônica. Nesses veículos, a maior parte do material publicado sobre ciência é produzido por jornalistas, que nem sempre têm formação científica. Esses profissionais estão preparados para a prática da divulgação científica? Os textos sobre ciência publicados na imprensa são confiáveis? O que é preciso para melhorar a qualidade desse conteúdo?
 
Questões como estas são discutidas em um livro que acaba de ser lançado: Formação & informação científica – jornalismo para iniciados e leigos reúne artigos de alguns dos principais jornalistas da área em ação no Brasil. Organizado por Sergio Vilas Boas, o volume traz interessantes reflexões sobre os principais desafios ligados à prática do jornalismo científico atualmente.
 
O artigo que abre a coletânea é assinado por Alicia Ivanissevich, editora-executiva da revista Ciência Hoje . Ela disseca a forma como são produzidas as notícias sobre ciência veiculadas na imprensa e ressalta a importância da mídia na difusão das informações científicas. Ivanissevich discute as diferenças que tornam muitas vezes conflituosa a relação entre jornalistas e cientistas e aponta caminhos para superá-las. Segundo ela, o principal desafio do repórter é encontrar um equilíbrio entre clareza e precisão, simplicidade e fidelidade aos conceitos científicos transmitidos.
 
Martha San Juan França, vice-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, é outra autora presente na coletânea. Seu artigo traça um rápido histórico do surgimento do jornalismo científico e discute algumas especificidades desse campo, como o dilema de se mostrar ou não o texto final aos cientistas entrevistados e a falta de espírito crítico e investigativo da maior parte dos repórteres. Ela conclui que é possível fazer um jornalismo científico de qualidade, desde que o profissional disponha de tempo, espaço e dedicação – “infelizmente, algo muito raro nas condições em que trabalham os jornalistas ultimamente”.
 
O livro traz também um ensaio de Verônica Falcão, repórter de ciência e meio ambiente do Jornal do Commercio de Recife. A jornalista analisa as áreas da ciência mais cobertas na imprensa brasileira e as motivações por trás desse recorte e discute a maneira como essas notícias são produzidas. Ela critica a falta de uma cultura de divulgação na maior parte dos centros de pesquisa brasileiros e traz conselhos práticos para os cientistas lidarem com jornalistas e vice-versa.
 
Completam a coletânea artigos dos jornalistas Maurício Tuffani, ex-editor-chefe da revista Galileu , Eduardo Geraque, editor da Agência Fapesp, e Vinicius Romanini, que foi colaborador das revistas Superinteressante e Terra , entre outras publicações.

De maneira geral, os ensaios são escritos em estilo simples e acessível. Formação e informação científica deve ser útil tanto a jornalistas e estudantes de jornalismo, que vão encontrar ali reflexões atuais sobre alguns dilemas do dia-a-dia do repórter especializado em ciências, quanto a leigos interessados em divulgação científica, que ganharão com o livro subsídios para entender como são feitas as reportagens científicas publicadas na imprensa.

Formação e informação científica –
jornalismo para iniciados e leigos
Sergio Vilas Boas (Org.)
São Paulo, 2005, Summus Editorial
Fone: (11) 3872-3322
127 páginas – R$ 23,90

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
02/11/05