Uma gigante na Amazônia

Uma torre de 320 metros – a mesma altura da torre Eiffel, em Paris (França) – será construída no meio da Amazônia. A estrutura terá sensores para monitorar as trocas de calor, água e gás carbônico entre a floresta e a atmosfera e fatores como velocidade do vento e umidade, o que ajudará os cientistas a entender o papel desse bioma no cenário das mudanças climáticas.

“A construção dessa torre é a realização de um sonho”, disse o físico Antônio Ocimar Manzi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), durante a apresentação do projeto na 61ª reunião anual da SBPC. “Com ela poderemos entender melhor, por exemplo, o comportamento das fontes e sumidouros de carbono da floresta e o processo de formação de nuvens”, completou.

O projeto, batizado de Observatório Amazônico da Torre Alta (Atto), está vinculado ao Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), em andamento desde 1998, em parceria com o Instituto Max Planck, na Alemanha.

Além da torre de 300 metros, estão previstas a construção de laboratórios, alojamentos e quatro torres menores auxiliares próximas à principal. O custo total está estimado em 8,4 milhões de euros, a serem divididos entre instituições e governos do Brasil e da Alemanha, país parceiro nessa empreitada.

O modelo da torre será baseado em um similar em funcionamento na Sibéria. O local escolhido para sua instalação é a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã, a cerca de 150 quilômetros de Manaus. “A escolha do local foi difícil, porque, quanto mais alta a torre, maior a influência dos fenômenos em seu entorno”, explicou Manzi. Segundo ele, era preciso fugir da interferência de grandes rios e de áreas de cerrado ou outras vegetações que não a de terra firme, alvo dos estudos dos projetos que serão desenvolvidos na torre.

A previsão é que a torre Atto entre em funcionamento no final de 2010. O projeto foi concebido para ter longa duração e deve fornecer dados durante 20 ou 30 anos. “Essa torre irá servir a toda a comunidade científica e ajudará a formar recursos humanos para a região. Além disso, os dados obtidos ajudarão a diminuir as incertezas dos modelos climáticos e determinar o verdadeiro papel da Amazônia para o clima global”, comemorou Manzi.

Décima-terceira

Clique na imagem acima para assistir a um vídeo em que o meteorologista Júlio Tota explica o que são e para que servem as 12 torres instaladas na Amazônia no âmbito do programa LBA. As torres medem as trocas de água, calor e carbono entre a floresta e a atmosfera e ajudam a entender seu papel no cenário das mudanças climáticas.

A torre Atto deve se juntar às outras 12 torres – a maior dela com 65 metros de altura – instaladas pelo LBA em diferentes pontos da Amazônia. Essas estruturas já abrigam hoje sensores para medir as trocas de água, calor e gás carbônico entre a biosfera e a atmosfera e permitiram elucidar várias questões em relação ao balanço global de carbono na floresta (saiba mais sobre essas torres no vídeo ao lado).

A altura da torre Atto permitirá gerar dados muito mais abrangentes que os obtidos atualmente. “As medições feitas na nova torre serão representativas de uma área com um raio de 300 km, muito maior do que a das torres atuais, com de 3 a 5 km de raio”, estima o meteorologista Júlio Tota, que costuma fazer pesquisa de campo nas torres do LBA para seu doutorado pelo Inpa.

O pesquisador lembra ainda que as dimensões da nova torre devem tornar mais precisos os dados obtidos atualmente. “A nova estrutura também vai permitir determinar a altura mais indicada para se fazer a medida dos fluxos gasosos entre a biosfera e a atmosfera”, acrescenta ele. “Esta é uma questão que ainda está em aberto na Amazônia.”

Mariana Ferraz
Ciência Hoje / RJ
23/07/2009

Confira a cobertura completa da 61ª Reunião Anual da SBPC