Se o Parque dos Atletas, espaço oficial da Rio+20 destinado ao público em geral, ficou vazio nos dias em que esteve aberto, o contrário vem acontecendo com os eventos paralelos de caráter artístico. Exposições e instalações de arte ligadas ao tema da sustentabilidade têm atraído multidões.
Parece que as negociações e os discursos oficiais têm perdido a atenção do público para uma linguagem mais sutil: a arte. Mais por sensações do que por palavras, exposições como Humanidade 2012, no Forte de Copacabana, e Brasil Cerrado, no Museu de Arte Moderna, têm despertado o interesse das pessoas pelas temáticas da conferência da ONU.
Em cartaz desde terça-feira passada (12/6), a mostra Humanidade 2012, idealizada pela coreógrafa Bia Lessa, já foi visitada por mais de 140 mil pessoas que não se importam em esperar por até duas horas na fila, mesmo debaixo de chuva, como foi o caso de hoje (20/6).
Lá dentro, o público tem contato com assuntos sérios, como o crescimento populacional, o consumo desenfreado, a preservação das florestas e da água e a biodiversidade. Tudo isso por meio de instalações de arte que usam dos mais variados recursos visuais e sonoros: lasers, imagens em 3D, tecidos enormes pendurados no teto, retroprojeção, TVs, água, máquinas de escrever…
Uma das salas que mais chamam a atenção é a ‘O mundo em que vivemos’. Criada com a curadoria do físico Luiz Alberto Oliveira, do Centro Brasiliero de Pesquisas Físicas (CBPF), retrata de forma dramática o Antropoceno, nova era geológica que considera a influência humana no funcionamento do planeta. Para mostrar a relação de tensão entre ser humano e natureza, uma enorme máquina desenha pegadas no teto que simbolizam a população, enquanto outra máquina apaga da parede desenhos de animais e objetos.
Despertar pela arte
O advogado José Maria Apoliano, que visitava a exposição com a família, se disse encantado. “Nunca vi nada igual, não participei da Eco-92 e aqui tive a chance de me informar mais sobre as questões que permeiam as conferências da ONU”, afirmou. “Tudo o que vi me levou a pensar que não temos outra saída a não ser preservar a natureza e adotar uma postura sustentável.”
O administrador de empresas Maiko Arpino foi tocado de outra maneira: para ele, o mais chamativo foi a reação dos visitantes. “Todos ficam muito preocupados em ir para a próxima sala e em passar à frente dos outros”, comentou. “Muita gente só pensa em si mesmo, não se preocupa com o outro nem com a natureza. E é isso que vejo na nossa sociedade, o egoísmo só leva à destruição.”
Menos lotada, mas nem por isso menos interessante, é a videoinstalação Brasil Cerrado. A exposição, que prima pela sensorialidade, apresenta de forma imersiva as belezas do cerrado, na tentativa de alertar para a sua preservação.
Grandes painéis exibem imagens de plantas e animais do cerrado acompanhadas de sons e odores da região. Isso mesmo, o visitante literalmente sente a natureza por meio de cheiros de flores, mato e até queimadas. Na saída, um mapa mostra, em tempo real, a degradação da região acompanhada por satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ambas as mostras ficarão em cartaz até o final da Rio+20, nesta sexta-feira (22/6).
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Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line