Unindo cinema e ciência

Publicamos ótima crítica do documentário The cove (algo como ‘A enseada’), ganhador do Oscar deste ano. Impressiona a crueldade da matança dos golfinhos. O Japão, onde ocorre o massacre, segundo reportagem publicada na Science, mata cerca de 23 mil golfinhos por ano.

O mesmo espetáculo de sangue é visto na Dinamarca (no YouTube há vários vídeos mostrando o massacre. Tente buscar por ‘dolphin killing’. Alerta: assim como The cove, é coisa barra pesada de ver). E pensar que esses dois países nos deram pessoas da estatura de Hideki Yukawa (1907-1981) e Niels Bohr (1885-1962).

O documentário e os vídeos refletem a estupidez humana – em países ditos civilizados – em seu mais alto esplendor. No outro espectro, o das boas intenções e da profunda humanidade, está o simpósio ‘Inteligência dos golfinhos: implicações éticas e políticas’, no último encontro da Associação Norte-americana para o Avanço da Ciência

os golfinhos se encaixam em vários dos quesitos para avaliar a humanidade

Fatos relatados sobre esses mamíferos aquáticos: i) são a segunda criatura mais inteligente do planeta (certo, exceção para os humanos envolvidos nas matanças acima); ii) o cérebro deles é mais pesado que o dos humanos (1,6 kg contra 1,3 kg); iii) têm autoconsciência (podem se reconhecer no espelho) e grande capacidade para resolver problemas; iv) têm neurônios ligados à emoção, à cognição social e à capacidade de perceber o que os outros estão pensando.

Golfinhos, dizem os especialistas, têm a inteligência de uma criança de 3 anos. Portanto, mantê-los em cativeiro não é ético; matá-los, nem pensar. Um filósofo participante do evento disse que os golfinhos se encaixam em vários dos quesitos para avaliar a humanidade: estão vivos, têm consciência, emoções, personalidade, autocontrole e respeito pelos outros. Para ele, golfinhos deveriam ser enquadrados como pessoas não humanas. Depois de ler essas declarações, The cove parece ainda mais cruel. Visite a página oficial do filme.

 

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje / RJ

[Publicado originalmente na edição 269, na seção Mundo de ciência]