A prática de disponibilizar conteúdo educacional na internet está, pouco a pouco, ganhando espaço entre as universidades públicas brasileiras. Em maio, a Universidade de São Paulo (USP) anunciou a criação de um portal que garante acesso livre a videoaulas gravadas para seus cursos presenciais e semipresenciais. Em seguida, foi a vez da Universidade Estadual Paulista (Unesp) aderir a essa democratização do material de ensino.
Em junho foi lançado o programa Unesp Aberta, que tem como objetivo disponibilizar gratuitamente pela internet todo o conteúdo produzido para os cursos de educação a distância da universidade, além de outras obras e materiais diversos.
Os itens produzidos para os cursos a distância reúnem textos, videoaulas, apresentações de slides, atividades com autocorreção e programas de computador educacionais, além de mapas, imagens e animações. Livros e periódicos pertencentes ao sistema de bibliotecas da Unesp, incluindo obras raras, que não podem ser manuseadas, integram a biblioteca virtual do programa. Há também um acervo digital que conta com diversos materiais gerados ou adquiridos pela universidade, entre teses, dissertações e conteúdos audiovisuais variados.
Até agora já foram colocados na rede cerca de 18 mil itens. São cursos produzidos para os programas governamentais Rede São Paulo de Formação Docente (Redefor), Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) e Universidade Aberta do Brasil e livros digitais criados a partir de pesquisas de alunos de pós-graduação, além do material da biblioteca e do acervo. E o site continuará recebendo novos conteúdos. Para ter acesso, basta criar um nome de usuário com senha.
De acordo com o especialista em informática e educação Klaus Schlünzen Júnior, coordenador do Núcleo de Educação a Distância (Nead) da Unesp, a universidade também está fomentando o uso de tecnologias digitais nas aulas presenciais. O pesquisador conta que alguns professores já produzem conteúdos desse tipo, mas essa prática ainda pode crescer bastante. “Muitos de nossos docentes possuem grandes arquivos com imagens relativas às suas disciplinas, por exemplo”, afirma. “Se esse material for digitalizado, o Unesp Aberta se tornará uma fonte ainda mais rica.”
Múltiplas possibilidades
O coordenador do Nead ressalta que a iniciativa da Unesp oferece muitas possibilidades para os professores. “Os profissionais podem utilizar o material para completar sua formação, adquirindo novos conhecimentos. Além disso, também é possível usar as obras em sala de aula e, assim, oferecer informações complementares aos alunos e contribuir para dinamizar o processo educacional.”
A universidade, no entanto, não fornece nenhum tipo de certificação para quem utilizar o site para se aperfeiçoar, já que não há uma estrutura de curso regular, com matrícula e avaliações.
Para Schlünzen, o Unesp Aberta é uma forma de retribuição à sociedade. “Não podemos ter todas as pessoas do Brasil como alunas, mas todas pagam os impostos que sustentam nossa universidade”, afirma.
Schlünzen acredita que muitas outras instituições públicas devem criar projetos parecidos com o da Unesp. “É um passo muito importante para fazer da universidade o que ela deve ser: um espaço de produção de conhecimento acessível para a sociedade”, conclui.
Convergência digital
O portal lançado em maio pela USP segue essa mesma direção e já conta com 850 videoaulas preparadas para complementar os cursos presenciais e semipresenciais da universidade. A ideia é que o site seja alimentado constantemente e seu conteúdo seja ampliado até o fim do ano, para permitir a disponibilização de outros tipos de arquivos relativos às disciplinas.
Vale lembrar que a Fundação Getúlio Vargas e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mantêm iniciativas de cursos livres a distância. Além disso, o site da UnivespTV apresenta alguns dos vídeos desenvolvidos para esse programa, que conta com a parceria da USP, da Unicamp, da Unesp, do Centro Estadual de Ensino Tecnológico Paulo Souza e da Fundação Padre Anchieta.
A disponibilização on-line de produções acadêmicas é uma tendência no mundo. Várias instituições estrangeiras já aderiram à prática. Recentemente, a Universidade Harvard e o Massachusetts Institute of Technology, ambos nos Estados Unidos, criaram um portal – que agora conta também com a participação da Universidade da Califórnia em Berkeley – para oferecer cursos completos gratuitamente pela internet, sem necessidade de processo seletivo e com possibilidade de certificação.
Yuri Hutflesz
Ciência Hoje On-line