
Duas espécies de coral invasoras identificadas em Ilha Grande: Tubastraea tagusensis (amarela) e T. coccinea (laranja). Ambas representam uma ameaça ao equilíbrio dos ecossistemas do litoral do Rio de Janeiro (foto: Joel Creed).
Há muitos anos espécies animais e vegetais migram de várias partes do mundo para outras sem causar problemas aos ecossistemas em que se instalam. Nos dias atuais, entretanto, o comércio mundial e os diversos meios de transporte usados pelo homem têm feito aumentar de forma preocupante o trânsito dessas espécies. Após se instalar em um novo ambiente e ter condições de proliferar, a espécie exótica assume o papel de invasora e, por deixar os predadores em seu ambiente de origem, compete de forma desleal com as espécies nativas, causando sérios danos ao ecossistema local. Em evento paralelo da COP8, o Programa Global de Espécies Invasoras (Gisp, na sigla em inglês), organização internacional formada por diversas instituições ambientais, discutiu a séria questão das espécies exóticas invasoras e as medidas necessárias para combatê-las.
Por acreditar no grande impacto causado à biodiversidade por essas espécies, o Gisp está recrutando um grupo de 10 países para trocar informações e discutir meios de combater o problema. No evento paralelo, o Brasil anunciou sua participação no grupo. “O governo tem feito vários estudos sobre espécies invasoras no país e tem contribuições a dar ao grupo”, disse o gerente de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, em nome da ministra Marina Silva. Dias afirmou que o tema sempre foi analisado pela óptica econômica e da saúde e que só recentemente a vertente ambiental tem sido discutida. A África do Sul também se comprometeu a ajudar o grupo dos 10 países.
Além dos danos ambientais causados pelas espécies invasoras, sua introdução em determinado local pode gerar grandes prejuízos à economia e à saúde. De acordo com números do Gisp, os gastos no Brasil com combate às pragas exóticas na agricultura chegam a US$ 50 bilhões por ano. Os danos à saúde também geram enorme prejuízo.
Segundo a coordenadora do Gisp para a América do Sul, Sílvia Ziller, da organização não-governamental The Nature Conservancy, algumas medidas simples ajudariam a evitar a invasão de espécies exóticas. Uma delas seria trocar a água de lastro dos navios em alto-mar e não nas regiões portuárias. Esse procedimento poderia ter evitado, por exemplo, a invasão do mexilhão-dourado ( Limnoperna fortunei ), um molusco de água doce de origem asiática que tem causado sérios problemas econômicos e ambientais aos países da bacia do rio Paraná. Outras medidas incluem aplicar spray desinfetante em aviões para matar possíveis insetos, tratar a madeira usada na fabricação de caixotes, ampliar o controle nas fronteiras e, principalmente, disseminar informações sobre espécies invasoras entre os países.

O sapo-cururu ( Bufo marinus ), espécie natural das Américas, foi ‘exportado’ para a Austrália para combater pragas das lavouras de cana-de-açúcar. No entanto, começou a se reproduzir descontroladamente e hoje representa uma ameaça para as espécies locais (fotos: Ben Phillips).
A pauta da COP8 inclui a discussão de um item específico da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) sobre espécies invasoras. Uma das metas é criar uma legislação internacional sobre o assunto, para definir, por exemplo, quem paga a conta quando uma espécie sai de um país e invade outro, causando prejuízos a este segundo.
Além disso, a intenção é identificar as principais espécies invasoras e suas rotas de invasão, alimentar um banco de dados sobre essas espécies e dar aos países condições de lutar contra elas. Outro item da pauta da CDB relacionado com o tema é a iniciativa mundial sobre taxonomia, com o objetivo de padronizar a classificação dos seres vivos. O debate dessa questão na COP8 é fundamental para identificar e combater esses visitantes indesejados.
Murilo Alves Pereira
Especial para a CH On-line / PR
30/03/2006
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