Afinal, os elefantes correm ou não?

Durante muito tempo se acreditou que os elefantes não corressem. Isso porque, segundo a definição clássica, um animal corre quando tira, simultaneamente, todos os membros do chão — o que não ocorre com os paquidermes, que mantêm sempre pelo menos uma das patas no solo. Um estudo publicado na Nature de 3 de abril, no entanto, mostra que pode não ser bem assim.

Hutchinson usou em seus experimentos 42 elefantes asiáticos cujas juntas
foram marcadas com tinta atóxica para a digitalização de seus movimentos.
Os animais correram um percurso de 30 metros enquanto eram filmados.

“A corrida dos elefantes não tem fase aérea, provavelmente porque causaria um estresse mecânico muito grande, devido ao peso”, explica o engenheiro mecânico John Hutchinson, da Universidade de Stanford (EUA). No artigo, a equipe de Hutchinson relata experimentos que mostram que os elefantes apresentam padrões típicos de animais que estão correndo.

Quadrúpedes típicos têm três padrões de passadas: marcha, trote e galope. No trote, patas diagonais tocam o solo ao mesmo tempo. Assim, as patas traseira esquerda e dianteira direita se movem juntas e vice-versa. “Nesse caso, o animal age como um bípede”, compara Hutchinson. Já no galope, as patas traseiras tocam o solo uma após a outra. Há uma pausa após a qual as patas dianteiras fazem o mesmo movimento.

Com os elefantes é diferente: eles sempre usam o padrão de marcha, seja qual for sua velocidade. A marcha se caracteriza pelos seguintes movimentos: pata traseira esquerda, pausa breve, pata dianteira esquerda e pausa longa; depois, o mesmo ocorre no outro lado.

A elefanta Wanna Lee (acima) atingiu 22 km/h. Entre os animais estudados, 20 atingiram mais de 18 km/h e 3 ultrapassaram 21 km/h. Foto: Richard Lair

A análise de vídeos de elefantes se locomovendo em baixa velocidade revelou um padrão de oscilação de ombros e quadris típico da marcha. No entanto, quando aumentou a velocidade, o movimento dos ombros continuou como na marcha, enquanto o padrão dos quadris passou a ser característico de corrida.

Marcha e corrida também se distinguem pela relação entre energia cinética e energia potencial durante a locomoção. Essa relação é medida pelo número de Froude (Fr), obtido ao se dividir o quadrado da velocidade pelo produto entre aceleração da gravidade e altura do quadril. A maioria dos animais muda de marcha para corrida quando Fr atinge um valor próximo de 0,5 e galopa quando Fr passa de 2,5. No experimento, o Fr dos elefantes foi quase sempre maior que 1,0. O mais veloz deles chegou a 3,4.

Para se ter certeza de que os elefantes correm mesmo, seria necessário um último procedimento: fazê-los andar sobre uma engenhoca que registra a força exercida pelos passos sobre o solo. “O problema é que as plataformas de força disponíveis atualmente quebrariam se um elefante corresse sobre elas”, diz Hutchinson. Por isso, está em construção no Colorado (EUA) uma plataforma que suportará as 2 ou 3 toneladas do paquiderme.

Entender a locomoção dos elefantes pode nos ajudar a relacionar melhor princípios como tamanho, velocidade, força e estabilidade. “Proporcionalmente ao seu tamanho, elefantes têm músculos pequenos, o que os torna semelhantes a humanos obesos ou com paralisia muscular”, diz Hutchinson. “O estudo da mobilidade desses animais pode ajudar essas pessoas a superar as forças físicas que restringem seus movimentos.”

Assista a vídeos em que o elefante chamado ’Big’ anda
e é estimulado a correr (o paquiderme atingiu 24 km/h).
Os arquivos (formato AVI) têm respectivamente 2244 e 781 KB.
Você pode precisar de um software como o Quicktime
para visualizá-los. Autor dos vídeos: John Hutchinson.

Adriana Melo 
Ciência Hoje On-line
08/04/03