Álbum de família

 

Um grupo internacional de pesquisadores montou um catálogo com a seqüência genética de nada menos que 12 espécies de moscas do gênero Drosophila. A comparação dos resultados forneceu aos cientistas um imenso e inédito banco de dados para entender as semelhanças e diferenças da estrutura e do conteúdo do genoma das 12 espécies, bem como a dinâmica evolutiva que operou em cada uma.

As drosófilas são consideradas organismos-modelo para o estudo de processos biológicos fundamentais comuns a várias espécies (foto: Justin Kumar).

As drosófilas são velhas conhecidas nos laboratórios de genética de todo o mundo. Devido a fatores como a facilidade de manipulação e o curto ciclo de vida, elas são um dos principais modelos para estudos de processos biológicos comuns a várias espécies. Esses insetos – e em particular a espécie Drosophila melanogaster – foram usados em estudos que ajudaram a decifrar as leis fundamentais de herança genética e o desenvolvimento embrionário.

A D. melanogaster e uma de suas primas menos ilustres – a D. pseudoobscura – já haviam tido seu genoma seqüenciado, em 2000 e 2005, respectivamente. Agora, um consórcio internacional de laboratórios uniu forças para determinar a seqüência genética de outras dez espécies de drosófilas e comparar o genoma de todas elas. Juntaram-se ao álbum genômico de família as espécies D. simulans, D. yakuba, D. erecta, D. ananassae, D. persimilis, D. willistoni, D. virilis, D. grimshawi, D. mojavensis. e D. sechellia.

O Consórcio dos 12 Genomas de Drosophila envolveu a participação de cientistas de mais de 100 instituições diferentes, originárias de 16 países. O Brasil está representado por pesquisadores das Universidades Federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Pernambuco (UFPE). O resultado desse esforço é um pacote de oito artigos publicados na edição desta semana da revista Nature – dezenas de artigos derivados do mesmo projeto devem ser publicados em outras revistas nas próximas semanas.

Semelhanças e diferenças
O estudo permitiu entender aspectos únicos das 12 espécies analisadas, que têm cerca de 14 mil genes cada uma. Os cientistas constataram, por exemplo, que a D. melanogaster compartilha em média cerca de 77% de seu genoma com suas primas. Pode parecer pouco, mas não é espantoso quando se tem em mente a grande diversidade morfológica das drosófilas – a D. grimshawi, por exemplo, é até cem vezes maior que a D. melanogaster.

Foram identificados quase 1200 novos genes responsáveis por codificar proteínas, além de outras centenas de seqüências reguladoras da expressão dos genes e outros elementos funcionais. O estudo comparado permitiu ainda apontar os genes que estão evoluindo mais rapidamente. As seqüências associadas com o paladar e o olfato, com a reprodução e com a defesa contra patógenos, por exemplo, apresentam taxas de evolução mais rápida, guiadas possivelmente pela adaptação a novos ambientes ou pela seleção sexual.

Apesar das novas descobertas, a comparação dos genomas ainda deixa muitos pontos em aberto. “Nossas análises representam apenas uma pequena parcela das questões que podem ser respondidas no contexto dessas 12 espécies”, disse à imprensa Andrew Clark, pesquisador da Universidade Cornell (EUA) e um dos líderes do estudo. “Esses achados representam um importante ponto de partida para futura pesquisa voltada para se entender a função dos padrões genômicos que descobrimos e sua relevância para o genoma humano.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
07/11/2007