O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos, que produz álcool de milho a um custo mais elevado. Aqui, o caldo da cana-de-açúcar é a principal matéria-prima desse combustível. Mas a perspectiva é que o país comece a usar cada vez mais também a palha e o bagaço da cana para produzir energia.
A previsão é da bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Elba Bon. O etanol de segunda geração (2G), nome dado ao álcool feito com os resíduos da cana, já é produzido em laboratórios e centros de pesquisa e, segundo Bon, tem tudo para ser incorporado pelas indústrias.
A pesquisadora acredita que, dentro de cinco anos, o Brasil já vai estar produzindo o etanol 2G em larga escala e, por volta de 2022, o combustível estará disponível nos postos misturado ao etanol tradicional, de primeira geração. Durante a Rio+20, 40 minivans usadas para o transporte de comitivas foram abastecidas com etanol 2G produzido experimentalmente pela Petrobrás.
O etanol 2G torna a cadeia produtiva do álcool mais sustentável. Com o aproveitamento do bagaço da cana, que normalmente é descartado, e da palha, usada em parte como adubo, é possível dobrar a produção de etanol por hectare de plantação.
Bon estima que um hectare que produz cerca de oito mil litros de etanol de primeira geração pode render até 11 mil litros a mais, se aproveitada a palha para fazer etanol 2G.
Para a pesquisadora, a possibilidade de se extrair álcool da palha e do bagaço da cana encerra a discussão sobre o impacto dos bicombustíveis na produção de alimentos. “Não faz mais sentido colocar a questão ‘biocombustível versus alimentação’; o etanol pode muito bem ser um subproduto da cana usada para produzir açúcar”, afirma.
Aproveitamento máximo
As vantagens do aproveitamento dos resíduos da cana-de-açúcar não param por aí. Durante os processos de extração do etanol 2G em laboratório, feita por meio de ácidos, hidrólise ou enzimas produzidas por microrganismos, os pesquisadores obtêm como subproduto a lignina, substância três vezes mais energética que o bagaço da cana.
Bon propõe que a lignina seja reintroduzida na cadeia produtiva como combustível para as caldeiras das usinas de etanol. “São processos simples que podem fazer a diferença na produção do etanol, tornando-a mais sustentável”, comenta.
Além de gerar etanol 2G e lignina, o bagaço da cana ainda pode ser usado para produzir hidrogênio de forma limpa. A substância vem sendo apontada por especialistas como alternativa sustentável para produção de energia e já é usada como combustível no ônibus ecológico H2+2, desenvolvido pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/ UFRJ) e apresentado durante a Rio+20.
“Estamos vivendo uma mudança de paradigma no mundo e é fundamental que o Brasil comece a formar recursos humanos preparados para lidar com recursos renováveis, como o etanol de segunda geração e o hidrogênio”, completa Bon.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line