Além do PIB

Crescer, crescer e crescer. Esse é o mantra que vem pautando a economia do mundo contemporâneo ao longo das últimas décadas. Não por acaso, geralmente é o Produto Interno Bruto (PIB) o indicador econômico mais reverenciado pelas nações e por seus respectivos dirigentes e líderes.

Mas não é novidade alguma que só o PIB, pura e simplesmente, pouco diz sobre o grau de evolução social e ambiental de um país. Afinal, crescimento não é sinônimo de desenvolvimento – e a história de ‘fazer o bolo crescer’ para somente depois dividi-lo já se mostrou falaciosa.

Por essas e outras, uma equipe de economistas da Universidade das Nações Unidas (UNU) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) apresentou ontem (17/6) um novo indicador de desenvolvimento: o Índice de Riqueza Inclusiva (IRI).

“É uma nova medida de progresso econômico, que agora inclui, entre outros fatores, o capital natural e o capital humano”, disse o subsecretário-geral e reitor da UNU, Konrad Osterwalder.

Os criadores do IRI destacam que o avanço econômico tradicional se baseia, essencialmente, na depredação dos recursos naturais do planeta. “Mas por quanto tempo uma economia pode crescer se não levar em conta a finitude de seus recursos?”, questionam.

Steiner: “A Rio+20 é uma oportunidade para deixarmos de entender o PIB como única medida de prosperidade no século 21”

À luz do conceito de limites do planeta, disseminado pelo pesquisador e ambientalista sueco Johan Rockström, do Stockholm Environment Institute, a abordagem parece fazer sentido.

“A Rio+20 é uma oportunidade para deixarmos de entender o PIB como única medida de prosperidade no século 21”, afirmou o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner. “Mensurar as questões sociais, a integridade dos recursos naturais e o bem-estar humano deve ser prioridade para iniciarmos a transição que almejamos”, concluiu.

Primeiro relatório

Na carona do lançamento do IRI, os economistas apresentaram ao público o Relatório de Riqueza Inclusiva 2012, primeiro estudo baseado no novo indicador. Foram analisados 20 países, e aqui vão alguns dos dados mais comentados: a medir pelo PIB, as economias de China, Estados Unidos, Brasil e África do Sul cresceram, respectivamente, 422%, 37%, 31% e 24% entre 1990 e 2008. Mas, se medirmos o desempenho econômico de acordo com o IRI, essas mesmas economias cresceram apenas 45%, 13%, 18% e -1%.

Com base no PIB per capita, o Brasil fica em 11º lugar entre os países analisados. Mas, a julgar pelo IRI per capita, ficamos em 5º, empatados com Índia, Japão e Reino Unido.

Índice de Riqueza Inclusiva
Média anual ‘per capita’ do Produto Interno Bruto (vermelho), do Índice de Desenvolvimento Humano (amarelo) e do Índice de Riqueza Inclusiva (verde) de cada um dos 20 países analisados no relatório divulgado pela ONU. (imagem: divulgação)

Das 20 nações avaliadas, 19 mostraram redução nas taxas de recursos naturais per capita. O único país que apresentou saldo positivo em seu capital natural foi o Japão – o que aconteceu, segundo os economistas, em função do aumento da cobertura florestal do país.

O novo indicador apresentado responde – pelo menos em parte – a uma antiga demanda das comunidades civil e acadêmica. A formulação do conceito foi iniciada em 2008, e a ideia a partir de agora é que novos relatórios sejam lançados a cada dois anos.

O novo indicador apresentado responde – pelo menos em parte – a uma antiga demanda das comunidades civil e acadêmica

“O IRI obviamente não responde a todas as perguntas que gostaríamos de fazer, mas é preciso considerar que, por hora, seu grande mérito é o simples fato de ser um novo indicador diferente do tradicional”, disse o economista Anantha Duraiappah, da UNU.

Por falar em indicadores, vale dar uma olhada no que foi feito no pequeno e distante reino do Butão, cravado no Himalaia. Por lá, deixaram o PIB em segundo plano e passaram a perseguir uma meta ‘econômica’ bem menos comum, contabilizada por um indicador nada ortodoxo: a Felicidade Nacional Bruta (FNB).

Em tempos de Rio+20, a ideia até poderia parecer atual – se não tivesse sido colocada em prática no distante ano de 1972.

Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line