Alerta eletrônico para epidemias

Agora é possível saber com rapidez quando uma doença infecciosa se torna uma ameaça para habitantes de determinada região. Um sistema computacional desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP) registra ocorrências de doenças infecciosas como sarampo, meningite e rubéola e, quando há quantidade significativa de casos em uma mesma região, alerta em tempo real os órgãos responsáveis pela vigilância epidemiológica, o que pode prevenir epidemias.

Interface em que é feito o registro do resultado dos exames do paciente no sistema Visão (imagem: Wagner Zaparoli).

O sistema é chamado Visão – sigla para Vigilância Informatizada por Sistema de Alertas On-line e está sendo desenvolvido desde 2006 pelo cientista da computação Wagner Zaparoli, em sua tese de doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. O objetivo do projeto é suprir a precariedade do registro das informações sobre as doenças, como a própria notificação e os resultados de exames.

Para elaborar e testar o Visão, Zaparoli usou dados do fluxo de notificações do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo. “Cada estado possui centros de vigilância epidemiológica (CVE) que recebem informações dos postos de saúde, ambulatórios e hospitais e tomam providências quando há suspeita de surtos ou epidemias”, explica.

Quando alguém chega ao posto de saúde com sintomas de uma doença, depois de analisado o caso, preenche-se uma notificação, geralmente em uma folha de papel escrita à mão, com dados pessoais sobre o paciente e seus principais sintomas. Em seguida, o formulário é enviado a um CVE, processo que pode ser demorado e sujeito a falhas. “Mas certas doenças não esperam e podem se disseminar com rapidez”, alerta o pesquisador.

24 horas por dia
O novo sistema está preparado para funcionar em uma rede do tipo Intranet 24 horas por dia e 7 dias por semana, disponibilizada por um servidor que restringe o acesso a usuários previamente cadastrados. “O atendente é orientado pelo próprio sistema a registrar dados de pacientes em um processo simples e versátil”, esclarece Zaparoli. Quando há um grande índice de disseminação de certa doença em determinada região, o sistema notifica em poucos segundos o CVE mais próximo.

Para testar o sistema, Zaparoli usou informações relacionadas à meningite meningocócica, enfermidade de alta letalidade e que pode se disseminar rapidamente. “Cada doença possui, entre outras características, períodos de incubação e transmissibilidade próprios, e o Visão é capaz de manter e utilizar esses parâmetros diferenciados”, completa.

Segundo o pesquisador, o novo método fornece informações rápidas e precisas que podem ajudar no controle de doenças infecciosas. “É possível saber em que posição geográfica há maior incidência de uma doença específica, o que facilita a investigação das causas e torna a prevenção muito mais eficaz”, destaca.

Zaparoli ressalta ainda que, embora restrito ao território brasileiro, o monitoramento eletrônico em tempo real realizado pelo Visão poderia levantar dados estatísticos do mundo todo através de pequenas adaptações técnicas. “Relatórios de alertas poderiam ser encaminhados à Organização Mundial da Saúde com essa ferramenta, o que contribuiria sensivelmente para o controle e contenção de grandes epidemias, como as que ocorrem atualmente na Ásia e na África”.

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje On-line
16/10/2007