Aliados pela sobrevivência

A dispersão por animais tende a espalhar sementes em locais mais favoráveis à germinação, enquanto a dispersão eólica acontece de forma aleatória e atinge distâncias mais curtas. A foto mostra um gaio (Garrulus glandarius) carregando um fruto de carvalho no bico (foto: Erwin van Laar).

Árvores cujas sementes são dispersas por animais conseguem resistir mais à redução e à fragmentação das florestas do que aquelas que dependem apenas da ação do vento. Uma pesquisa realizada na Espanha mostra que a dispersão animal tende a espalhar sementes em locais mais favoráveis à germinação, enquanto a dispersão pelo vento é aleatória e exige que as árvores lutem para sobreviver.

Os pesquisadores, liderados pelo ecólogo Daniel Montoya Terán, do Departamento de Ecologia da Universidade de Alcalá, avaliaram o impacto da redução de hábitat sobre espécies de árvores de diferentes ecossistemas da Península Ibérica. Das 34 espécies estudadas, 24 foram afetadas negativamente. Mas, para surpresa da equipe, quatro espécies não sofreram grande impacto e seis – entre elas, a nogueira (Juglans regia) – chegaram a reagir de forma positiva e tiveram um aumento populacional.

O estudo, publicado esta semana na revista Science, mostra que as espécies que sofreram impacto positivo têm em comum a dispersão de suas sementes por animais. “Os animais são capazes de ligar fragmentos remanescentes de florestas fisicamente isolados. Por isso, as novas gerações de plantas dispersas por animais têm mais chances de sobreviver diante do desmatamento”, diz Terán à CH On-line.
Para o pesquisador, outra explicação para esse impacto positivo do desflorestamento sobre algumas espécies de árvores é o fato de que, em bosques parcialmente desmatados, haveria maior incidência de animais que preferem hábitats em “mosaico” (com áreas de florestas e áreas a céu aberto). Isso contribuiria para uma dispersão maior e melhor de algumas árvores em situações de perda parcial da massa de floresta.

Segundo o ecólogo, as árvores com sementes dispersas pelo vento são mais afetadas pela redução das florestas, pois a disseminação acontece de forma aleatória e atinge distâncias mais curtas, o que reduz a probabilidade de sobrevivência das futuras gerações. “Essas árvores têm mais dificuldade de competir com espécies que têm dispersão animal, especialmente quando há um grande número de animais dispersores”, explica.

Mas o cientista ressalta que as árvores com dispersão eólica só serão mais suscetíveis ao desmatamento em relação às outras se a redução de hábitat não eliminar os animais dispersores. “Se as aves e os mamíferos que disseminam sementes desaparecerem, as árvores com dispersão animal não poderão sobreviver”, esclarece.

Políticas de conservação
O estudo mostra que interações entre plantas e animais são essenciais para a manutenção da biodiversidade e devem ser consideradas pelas políticas de conservação ambiental. “As estratégias de conservação devem levar em conta a preservação de interações mutualistas, como a dispersão de sementes ou a polinização de flores”, comenta o pesquisador. “Essas interações aumentam a biodiversidade regional, estabilizam ecossistemas e aumentam a resistência a perturbações causadas pela perda de hábitat.”

Terán acredita que as políticas de conservação atuais deveriam se concentrar em razões mais funcionais e menos passionais. “As políticas tradicionalmente se baseiam em espécies emblemáticas, como mamíferos e aves de grande porte”, diz. “Uma espécie deve ser conservada porque é importante para o ecossistema e porque dela dependem outras espécies”, pondera. 

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
05/06/2008