Alívio de tensões

Durante as etapas da cadeia produtiva da madeira, são expressivas as perdas provocadas pela liberação das tensões de crescimento (forças que agem naturalmente durante o desenvolvimento das árvores). Na tentativa de minimizar essas perdas, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Minas Gerais, realizaram, com o apoio de colegas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), experimentos com clones de Eucalyptus spp. e obtiveram variedades com características mais adequadas para a utilização da madeira.
 
null

O plantio de eucalipto no Brasil ocupa cerca de 3 milhões de hectares (foto: Eduardo Campinhos / International Paper do Brasil)

O engenheiro florestal Paulo Fernando Trugilho, da Ufla, conseguiu, durante seu trabalho de pós-doutorado, realizado na UFPR, selecionar clones de eucaliptos cujo rendimento em madeira serrada é muito superior ao obtido hoje por empresas florestais. “O estudo de Trugilho centrou-se nas tensões de crescimento das árvores, com o propósito de reduzir as deformações e rachaduras que elas provocam na madeira”, conta Setsuo Iwakiri, que orientou o trabalho de Trugilho.

 
No processo fisiológico de qualquer árvore, o crescimento do tronco se dá em altura e em diâmetro. Durante esse desenvolvimento, formam-se internamente tensões de tração e compressão ao longo de toda a estrutura. É a harmonia entre essas forças, chamadas de tensões de crescimento, que dá estabilidade aos troncos.
 
Essas tensões estão em equilíbrio enquanto a árvore está de pé. Mas no momento em que ela é cortada, há uma inversão no sentido de atuação das forças que agiam anteriormente. Assim, a zona periférica da tora, sob tração, tende a se contrair após a derrubada, e a parte central, sob compressão, tende a se expandir, o que causa rachaduras nos topos.
 
No processamento mecânico, quando as toras são cortadas em tábuas, é muito comum que essas forças causem o empenamento de algumas partes. O mesmo acontece no processo de secagem das tábuas, quando se perde ainda mais material.
 
“O que existia até então, para evitar as deformações, eram várias técnicas com o objetivo de liberar essas tensões”, conta Iwakiri. Algumas delas envolvem processos trabalhosos, aplicados nas árvores ainda em pé. Entre os processos utilizados está o anelamento, isto é, o corte circular de cerca de um terço do raio do tronco da árvore.
 
A questão vem sendo investigada há alguns anos, e a idéia de utilizar eucaliptos no estudo não foi casual. Afinal o gênero Eucalyptus é um dos mais comuns em Minas Gerais, onde foi feita grande parte dos trabalhos.
 
Desde o início de seu plantio na década de 1960, a madeira de eucalipto tinha como finalidade suprir a indústria siderúrgica como biomassa florestal para geração de energia. Com a queda da relação oferta-demanda pela madeira de pínus, o grande volume de eucaliptos passou a ser destinado a fins mais nobres, como o de madeira serrada e beneficiada, laminados e painéis aglomerados. O entrave que surgiu nessa etapa foi o do aproveitamento da madeira. Como as tensões de crescimento são, por natureza, maiores nas espécies de eucaliptos do que em outras árvores, a manifestação de tais forças acaba por inutilizar grande parte do produto final.
 
A seleção dos clones de eucaliptos mais adaptados às necessidades da indústria madeireira vem justamente resolver esse problema. Além disso, há um interesse especial pelo estudo de Eucalyptus dunnii . A espécie, originária da Austrália, ainda não é muito difundida no Brasil, embora já existam plantações comerciais em pequena escala. De crescimento mais acelerado, E. dunnii tem a particularidade de suportar baixas temperaturas e até geadas, com grande potencial de plantio na região Sul do Brasil. 

Célio Yano
Especial para Ciência Hoje / PR
26/07/05