Alta sensibilidade

Técnica criada por cientistas da Universidade de Montpellier, na França, e pelo cirurgião Jefferson Luís Braga da Silva, da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), pode ajudar pacientes que perderam a sensibilidade de nervos periféricos dos braços e das mãos e o movimento desses membros por causa de lesões graves.

O procedimento, que está sendo inicialmente testado em lesão nas mãos, consiste em implantar no local onde ocorreu o rompimento do nervo um minúsculo tubo de material polimérico com aproximadamente 15 mm de comprimento e 1 mm de diâmetro.

O protótipo é composto por três tipos de polímero e contém cavidades 300 vezes menores que um vírus

Desenvolvido por meio de nanotecnologia, o protótipo é composto por três tipos de polímero (os nomes ainda estão sob sigilo) e contém cavidades 300 vezes menores que um vírus. Através desses orifícios, a área lesada é alimentada por fatores de crescimento responsáveis pela sobrevivência e maturação de tecidos.

Entre esses fatores estão o NGF, proteína que age no crescimento dos nervos periféricos, o BDNF (também uma proteína), que exerce funções de crescimento, diferenciação e reparo dos neurônios, e o IGF, hormônio capaz de restaurar o nervo periférico e aumentar a produção de colágeno e elastina da pele.

Primeiros resultados

Responsável pelos testes realizados em animais de laboratório, o cirurgião da PUC-RS conta que eles recuperaram até 80% dos movimentos dos nervos e da sensibilidade à dor.

“Esperamos poder dar início ao emprego da técnica em seres humanos ainda este ano”, diz Silva, único brasileiro que integra a equipe franco-brasileira, formada também por biólogos, químicos, físicos e engenheiros químicos.

O médico lembra que, assim como o enxerto (procedimento normalmente usado nos casos de religamento de nervos), a inserção do tubo de polímero deve ser feita em até duas semanas após a lesão. “Passado esse período, as chances de regeneração caem significativamente.”

Nervo regenerado
Nervo regenerado de pata traseira de rato Wistar após implante de um tubo polimérico na área lesada. Cerca de um ano depois do procedimento o tubo é totalmente absorvido pelo organismo. (foto: Jefferson L.B. Silva/ PUC-RS)

A principal vantagem da nova técnica é que, diferente do que ocorre nos casos de enxerto, não é preciso retirar um nervo de outra parte do organismo para reparar a área lesada. Outro ponto positivo destacado por Silva refere-se ao material de que o tubo é feito. “Ele é totalmente absorvido pelo organismo sem causar qualquer tipo de rejeição.”

Segundo o médico, em um período de 9 a 12 meses, o tubo libera completamente os fatores de crescimento e se transforma em um novo nervo. Após o procedimento, o membro deve ficar imobilizado por um período de três a quatro semanas. Em seguida, até que o nervo se regenere, o paciente deve fazer fisioterapia.

A maior parte dos estudos e testes do novo nervo está sendo realizada na França, que tem feito grandes investimentos na área e dispõe de profissionais capacitados para viabilizar as várias etapas que a pesquisa envolve. A equipe planeja criar no futuro protótipos capazes de recuperar lesões em tendões, músculos e ossos.

Katy Mary de Farias
Especial para a CH On-line/ PR