Uma pesquisa feita na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em São José do Rio Preto pode dar origem a um novo tratamento para o câncer de laringe. O estudo mostra que a anexina-1, proteína anti-inflamatória produzida pelo organismo, é capaz de diminuir o avanço desse tipo de tumor.
Durante seu doutorado, a bióloga Thaís Gastardelo, sob a orientação da também bióloga Sônia Oliani, mostrou que células de câncer de laringe cultivadas em laboratório proliferaram menos quando expostas à anexina-1.
Segundo Oliani, outro ponto positivo do uso da proteína é a ausência de reações adversas. “Pesquisas anteriores mostraram que, quando aplicada a animais de laboratório, a anexina-1 não causa efeitos colaterais.”
Embora os resultados obtidos ainda sejam preliminares, Gastardelo aposta que o sucesso do tratamento com anexina-1 se deve à capacidade que a proteína tem de combater inflamações.
“Ainda estamos estudando quais mecanismos moleculares estão envolvidos no tratamento, mas provavelmente a ação anti-inflamatória da proteína contribui para diminuir a proliferação das células cancerosas”, afirma.
Câncer e inflamação
Oliani conta que a ideia de estudar a anexina-1 surgiu a partir de pesquisas que mostraram que a incidência de inflamação está associada a processos tumorais. Essa relação foi evidenciada pela análise de biópsias de tumores de laringe de 20 pacientes. Nelas, as pesquisadoras identificaram intensa atividade de células inflamatórias que liberam substâncias favoráveis ao crescimento do tumor e ao surgimento de vasos sanguíneos, o que aumenta a possibilidade de disseminação do câncer para outros órgãos.
“A compreensão dos mecanismos que modulam o desenvolvimento tumoral, sobretudo os mediadores inflamatórios e seu papel nas diferentes fases de progressão do tumor, é fundamental para o estabelecimento de terapêutica específica”, avalia Oliani.
A pesquisadora alerta que, embora haja evidências de que a ação anti-inflamatória da anexina-1 é uma boa alternativa para o tratamento do tumor de laringe, ainda é preciso investir em novos experimentos. “Apesar de regular o avanço do câncer, a proteína precisa passar por testes em humanos para confirmar o potencial da terapia.”
Gastardelo acrescenta que a pesquisa também pode trazer esperança para quem tem outros tipos de câncer e revela que novos estudos serão feitos para descobrir como a anexina-1 age sobre diferentes tumores. “O próximo passo será estudar a ação da proteína sobre as células do câncer de colo de útero.”
Mariana Rocha
Especial para a CH On-line