Amazônia: a esperança está de pé

Entre 2004 e 2006, a criação de áreas de proteção ambiental da Amazônia reduziu em 37% o índice de desmatamento da região. Além dos benefícios óbvios para a floresta, a queda do índice traz vantagens globais: as matas preservadas evitam a emissão de gás carbônico através do desmatamento e contribuem para amenizar o aquecimento do planeta.

Essa foi a conclusão de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com apoio da Fundação Gordon e Betty Moore. Em estudo publicado esta semana na revista PNAS, eles analisam os benefícios trazidos pelas unidades de conservação (UCs) e defendem a ideia de que o Brasil receba alguma compensação financeira pelo esforço, que funcionaria como um estímulo à preservação.

A emissão de carbono pelo desmatamento é o segundo maior fator de agravamento do efeito estufa

Todas as florestas exercem um importante papel no sistema climático mundial, estocando carbono e regulando as temperaturas. A emissão desse carbono por causa do desmatamento é o segundo maior fator de agravamento do efeito estufa.

“Se você pensar que a floresta amazônica é um dos últimos grandes blocos de floresta tropical, saberá que esse fato faz dela um importante armazém de carbono”, explica Paulo Moutinho, coordenador do Ipam e um dos autores do estudo publicado na PNAS.

Prevenir o desmatamento é essencial para conter as mudanças climáticas. O Protocolo de Kyoto, porém, assinado em 1997, ignorou o papel das áreas de proteção ambiental na redução do desmatamento, argumentam os pesquisadores.

A 13ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em 2007, procurou discutir justamente políticas que incentivem a redução de territórios desmatados. Essas ações foram chamadas de ‘Mecanismos de redução das emissões de carbono provenientes do desmatamento e da degradação de florestas’, também conhecidos como REDD, na sigla em inglês.

A Amazônia conta, hoje, com 595 áreas protegidas, incluindo as reservas indígenas

Na conferência, o Brasil prometeu reduzir em até 80% a proporção de área desmatada (19.500 km²) até 2020. Até agora, a redução já chegou a 12.500 km², numa média de 7 mil km² por ano.

“As unidades de conservação são essenciais na concretização desse acordo. É a lei agindo para o controle do desmatamento”, reflete o geocientista Britaldo Soares-Filho, pesquisador do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG e também autor do estudo.

Por definição, uma UC é um território cuja proteção é garantida por lei, visando a conservar seus recursos naturais e biodiversidade. A Amazônia conta, hoje, com 595 áreas protegidas, incluindo as reservas indígenas. Para a consolidação dessas áreas, foi criado o Programa Áreas Protegidas da Amazônia – ARPA, que dá subsídios para a sua expansão e conservação.

Amazônia: preservação e desmatamento
Na Amazônia, vista aérea para uma unidade de conservação, com a floresta preservada, e para área inteiramente desmatada, onde queimadas abriram terreno para a agropecuária (fotos: Ana Cotta – CC BY 2.0).

 

Compensação financeira

Segundo os autores do artigo, o Brasil conduziu o maior programa de áreas protegidas do mundo. De 2002 a 2009, 709 mil km² da Amazônia foram transformados em unidades de conservação. Caso este território tivesse sido desmatado, o resultado seria a emissão de quase um bilhão de toneladas de carbono.

No entanto, também há um preço a se pagar pela conservação. Segundo Soares-Filho, há que se contabilizar tanto os custo envolvidos no controle dessas áreas quanto as perdas de oportunidades de exploração. Os pesquisadores defendem, dessa forma, que haja uma compensação financeira por esse esforço.

O projeto defende uma cota para a compra de créditos de carbono em unidades de conservação

A ideia é promover uma prestação de serviços ambientais, a partir de um mercado de carbono, que será discutido na próxima Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-16), que acontece em Cancún, no México, em dezembro deste ano.

O projeto defende que se estipule uma cota para a compra de créditos de carbono em unidades de conservação, criando uma compensação financeira pela redução das emissões. Para não representar um ciclo vicioso e uma omissão de responsabilidade por parte dos países de primeiro mundo – que compram os créditos de carbono para compensar por suas próprias emissões –, será discutido um limite para a negociação.

“Não queremos que a Amazônia seja um tapete para guardar sujeira dos outros, mas que isso seja uma ferramenta para incentivar a redução do desmatamento”, explica Soares-Filho. “É bom para os dois lados. Muitos fazendeiros já estão deixando de desmatar pensando nas vantagens econômicas”, completa.

“Manter árvores em pé, portanto, é o meio mais rápido e barato de evitar a emissão de gases”

Os pesquisadores sugerem que um valor equivalente a 1% dos gastos anuais com energia limpa – US$ 150 bilhões – seja investido para viabilizar as unidades de conservação. Garantir que essas áreas de floresta fiquem de pé corresponde a reduzir em até 10% as emissões de carbono globais.

O estudo mostra como o Brasil lançou outro modelo de sustentabilidade ambiental. “Quando uma árvore é derrubada e queimada, mais carbono é emitido para a atmosfera. Manter árvores em pé, portanto, é o meio mais rápido e barato de evitar a emissão de gases que agravam o efeito estufa”, diz Paulo Moutinho.

O ecólogo lembra que, além de reduzir as emissões de gás carbônico, as unidades de conservação ainda promovem a preservação das florestas.

Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line

 

Errata: Essa matéria foi modificada e corrigida em 25/05/2010. Ao contrário do informado na versão publicada inicialmente, é a Amazônia que conta com 595 áreas protegidas, e não o estado do Amazonas.

Além disso, o compromisso firmado pelo Brasil na 13ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em 2007, não foi de reduzir a área desmatada em 19.500 km² ao ano, como fora informado, e sim ter uma redução equivalente a 80% desta área (19.500 km²) até 2020.