O desmatamento na Amazônia vem diminuindo nos últimos anos. No entanto, as queimadas na região são cada vez mais recorrentes e podem emitir uma quantidade preocupante de dióxido de carbono. O alerta é de dois pesquisadores brasileiros e foi publicado em artigo da Science desta semana.
O estudo é assinado por Luiz Aragão, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e Yosio Shimabukuro, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A solução, para eles, seria a introdução de uma política que apoie a mudança de comportamento da população amazônica para a adoção de uma agricultura sustentável e manejada livre de fogo.
Os pesquisadores analisaram dados de satélite provenientes de dois projetos do Inpe – o Prodes, que registra a evolução do desmatamento, e o de Monitoramento de Queimadas. Foram comparadas estatísticas referentes à Amazônia brasileira no período de 1998 a 2007.
Os resultados mostram que, em 59% das áreas onde foi observado um declínio nos índices de desmatamento, houve também um aumento na ocorrência de queimadas.
Ciclo vicioso
Quando as árvores sofrem danos ou são derrubadas, a queima ou o apodrecimento da madeira libera o carbono armazenado nas árvores na forma de dióxido de carbono, o que intensifica o efeito estufa. Assim, a fumaça contribui para as mudanças climáticas, o que pode fazer com que a Amazônia fique cada vez mais seca.
“Há uma retroalimentação desse sistema, em que o carbono emitido pelas queimadas provoca alterações no clima com alta probabilidade de deixá-lo mais seco, o que proporciona condições favoráveis para mais queimadas”, explica Aragão.
Algumas florestas também protegem grandes quantidades de carbono armazenadas em sua biomassa. Ao serem incendiadas, elas podem liberar uma quantidade significativa de gás carbônico.
Segundo o biólogo, pode ser que, em longo prazo, parte do carbono que deixa de ser eliminado com a redução do desmatamento seja liberado na atmosfera por meio das queimadas sem que seja quantificado.
Os resultados mostram que o Brasil precisará se esforçar para participar de forma efetiva dos mecanismos de redução de emissões por desmatamento e degradação (Redd, na sigla em inglês), apesar de sua atuação destacada nessa discussão.
Esses mecanismos incluem a proposta de um mercado de carbono e de outros serviços ambientais e poderiam evitar a emissão de 13 a 50 bilhões de toneladas de carbono em todo o mundo até 2100. No entanto, somente na Amazônia, estima-se que queimadas durante anos de seca extrema contribuam para a liberação de 100 a 200 milhões de toneladas de carbono por ano.
“Os mecanismos de Redd não vão reduzir toda a emissão de carbono a níveis esperados”, alerta Luiz Aragão. “É preciso que haja uma política de monitoramento que quantifique e controle não apenas o desmatamento, mas também as queimadas.”
Expectativas contrariadas
O aumento das queimadas apesar da redução das taxas de desmatamento está potencialmente relacionado ao constante aumento das áreas de borda, que são mais secas e suscetíveis ao fogo. Essa constatação se opôs as expectativas dos pesquisadores de que haveria uma menor incidência de incêndios em função da redução da atividade humana decorrente da diminuição do desmatamento.
A maior causa de desmatamento das florestas tropicais é a expansão da agricultura e pecuária, que fragmenta a mata e favorece a incidência de queimadas.
O Brasil ainda utiliza, principalmente, técnicas de corte-e-queima da vegetação, que liberam carbono pela combustão da biomassa e dificilmente enriquecem o solo, o que inviabiliza a utilização de longo prazo dessas áreas.
Na opinião de Aragão, a eficiência da quantificação das emissões de carbono dentro da política dos mecanismos Redd exige o monitoramento das áreas de floresta secundária, que cresce em regiões que já sofreram desmatamento, e também da mata degradada pelo fogo.
A solução, aponta ele, seria a adoção de uma agricultura sustentável. Para isso, é preciso investir em técnicas específicas e incentivar essa prática. “É complicado proibir as queimadas quando essa é a única maneira com que a maioria dos pequenos e médios agricultores sabem e podem trabalhar”, aponta o biólogo.
Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line