Amizade de longa data

O gato pode não ser o melhor amigo do homem, mas com certeza está entre os mais antigos. A prova mais concreta dessa relação duradoura é a descoberta de um esqueleto de gato com mais de 9.500 anos, enterrado ao lado e no mesmo nível estratigráfico de um homem de 30 anos.

O gato encontrado em Chipre apresentava semelhanças
com o gato selvagem africano acima ( Felis silvestris lybica )
(foto: Ingrid Van Den Berg/Animals Animals)

O felino foi encontrado em 2001 por pesquisadores franceses do Museu Nacional de História Natural de Paris em um sítio arqueológico na cidade de Shillourokambos, na ilha de Chipre, mas sua descoberta só foi anunciada na edição de 9 de abril da revista Science .

No mesmo local, haviam também pedras polidas, ferramentas, jóias e outros objetos que os cientistas acreditam ser oferendas perto da pequena cova feita especialmente para o gato. “Demonstramos que a domesticação dos gatos não começou no Egito há quatro mil anos, como se acreditava, mas pelo menos cinco mil anos e meio antes disso no Oriente Próximo”, disse à CH On-line o arqueólogo Jean-Denis Vigne, coordenador da equipe francesa.

O esqueleto do animal, enterrado a 40 centímetros de um homem, está intacto e não apresenta nenhum sinal de violência, o que indica a proximidade do gato com seu suposto dono. No entanto, os cientistas ainda não sabem qual a natureza dessa relação. O gato poderia ser um animal de estimação, ter uma conotação religiosa ou até mesmo ser um símbolo de status. “Os dados apenas nos permitem dizer que o relacionamento entre o homem e o gato era forte enquanto estavam vivos”, disse Vigne. Os cientistas também não sabem qual a causa da morte do animal.

 

O esqueleto de gato (na porção inferior da imagem) foi encontrado a 40 cm dos ossos humanos e disposto de forma semelhante, o que indica que foram enterrados juntos propositalmente (foto: P. Gérard)

Durante o período Neolítico (entre 10 e 7 mil anos atrás, aproximadamente), a cidade de Shillourokambos foi habitada por fazendeiros, que chegaram à ilha de Chipre há mais de 10 mil anos, provavelmente vindos da Turquia. Como não existe nenhum ancestral do gato doméstico nativo da ilha, os felinos devem ter sido introduzidos voluntariamente pela população neolítica, assim como aconteceu com outros animais, como vacas, cabras, ovelhas, raposas, porcos e veados.

 

Provavelmente, os gatos tinham a função de controlar a população de ratos que já atacava as plantações de cereais de Chipre e do Oriente Médio na época. “É provável que a domesticação de gatos tenha começado entre 12 e 14 mil anos atrás, pois existem evidências de que ratos já proliferavam em armazéns de cereais nesse período”, disse Vigne.

Evidências mais antigas da domesticação de outros animais já foram identificadas em estudos anteriores. Em Israel, por exemplo, foram encontrados enterrados ao lado de humanos esqueletos intactos de cães em sítios arqueológicos de mais de 12.500 anos.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
14/04/04

 

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