Sofrer um acidente que leva à perda dos movimentos das mãos pode inviabilizar a realização de tarefas corriqueiras, como manusear pequenos objetos ou executar tarefas domésticas simples.
Mas uma tecnologia criada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) promete devolver parte da autonomia às vítimas desse tipo de acidente. Um grupo de pesquisadores criou um equipamento que permite ao usuário recuperar o movimento de abrir e fechar as mãos.
A órtese de mão – nome técnico do equipamento – é similar a uma luva e possui dispositivos eletrônicos que agem como os tendões dos dedos e do antebraço.
Os movimentos desses tendões artificiais são determinados por sinais emitidos por algum par de músculos ativos do usuário, como os dos ombros, por exemplo, onde são colocados eletrodos que captam esses estímulos. Assim, quando o paciente contrai esses músculos, os tendões da luva se fecham; quando eles são relaxados, a mão pode se abrir.
Os sinais emitidos pelos músculos são captados por sensor ligado a um pequeno motor que aciona os tendões da luva. O aparelho funciona à base de uma bateria recarregável. A órtese traz também, em sua parte posterior, uma mola conectada a esses tendões, que permite a abertura completa dos dedos e assegura maior vida útil do equipamento.
A órtese, apresentada a nossos leitores quando foi exibida na Feira de Inovação Tecnológica (Inovatec), está sendo aprimorada pela equipe do Laboratório de Bioengenharia (Labbio) da UFMG, responsável por seu desenvolvimento. O grupo está testando uma bateria mais potente e a adoção de um sistema sem fios para transmissão dos sinais emitidos pelos músculos, que melhoraria o aspecto estético do dispositivo.
Assista a um vídeo que mostra a órtese em ação.
Conforto e estética
A ideia da equipe do Labbio era desenvolver um modelo que não prejudicasse a movimentação do usuário e fosse confortável tanto para uso quanto visualmente. O novo equipamento não deveria se assemelhar às órteses mecânicas que utilizam hastes metálicas para mover os dedos, conta Marcus Pinotti, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG e coordenador do projeto. “Esses modelos são desconfortáveis e feios, o que acaba distanciando um pouco as pessoas”, avalia.
A órtese da UFMG foi confeccionada com um material antialérgico e flexível, similar à lycra. Os pesquisadores buscaram desenvolver um equipamento leve, com menos de um quilo, e de fácil manuseio. Segundo eles, duas sessões de treino de uma hora são suficientes para aprender a controlar o equipamento.
Pinotti explica que a órtese foi concebida originalmente para auxiliar pessoas que tiveram algum tipo de lesão nos nervos do plexo braquial, que partem da região cervical e originam as terminações nervosas que permitem os movimentos dos braços. O trauma é muito comum entre as vítimas de acidentes de moto.
Durante o desenvolvimento do equipamento, os pesquisadores constataram que ele poderia ser adotado também por pessoas que sofreram lesões na medula e perderam os movimentos de braço e antebraço. A órtese também pode ser usada temporariamente para fins terapêuticos, por pacientes que tiveram derrame cerebral – seu uso em sessões de fisioterapia ajudaria a manter a circulação sanguínea nos tecidos do braço, o que ajudaria a evitar a morte desses tecidos e a amputação do membro.
Os primeiros testes clínicos do equipamento foram feitos em 2007, com pacientes que tiveram lesão no plexo braquial. De acordo com Daniel Rocha, engenheiro mecatrônico do Labbio, as respostas dos usuários foram muito positivas. Para o segundo semestre deste ano, está prevista a realização de novos testes clínicos, desta vez com pacientes que sofreram lesões medulares.
Ainda não há qualquer previsão para que a órtese chegue ao mercado. “Isso depende de uma série de fatores como financiamento”, alega Pinotti.
Desireé Antônio
Especial para a CH On-line