Duas novas moléculas sintéticas (criadas em laboratório) mostraram-se eficientes no desenvolvimento de um produto capaz de destruir larvas do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.
Assim como certos piretroides (compostos sintéticos encontrados em inseticidas e repelentes), alguns larvicidas já têm sido utilizados em programas de combate à dengue.
“O problema é que o mosquito já adquiriu resistência a todos esses produtos”, explica o químico Francisco de Assis Marques, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), responsável por avaliar o poder larvicida das novas moléculas. Alterando sua estrutura e reavaliando sua atividade a cada mudança, ele tenta encontrar a estrutura química mais eficiente possível.
As duas moléculas foram sintetizadas no laboratório coordenado pela química Rose Maria Carlos, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e têm se mostrado eficientes quando testadas contra larvas do mosquito A. aegypti, matando-as antes que se transformem em indivíduos adultos.
As novas substâncias são pouco tóxicas para o ser humano, têm baixo custo em relação aos compostos empregados com a mesma finalidade e não se decompõem sob temperatura elevada.
Segundo o zoólogo da UFPR Mário Navarro, que monitora a ação das moléculas na larva do mosquito, elas têm se mostrado bastante eficientes em condições de laboratório. Resta agora verificar seu desempenho no meio ambiente. “Queremos saber, entre outras coisas, se elas podem prejudicar outros organismos e se não induzem resistência cruzada.”
Ocorre resistência cruzada quando um organismo consegue ‘ler’ o mecanismo de ação de determinada substância usada para eliminá-lo. Se o grupo químico responsável por esse mecanismo estiver presente em outras substâncias, o indivíduo será resistente a todas elas.
A larva é testada no terceiro e no quarto estágio de desenvolvimento, períodos em que ela é mais resistente. Os testes, feitos em laboratórios do Departamento de Zoologia da UFPR, empregam duas amostras: uma de água pura, simulando o ambiente natural em que a larva se desenvolve, e outra de água contendo as novas moléculas. Em cada amostra são introduzidas cerca de 20 larvas.
“Todas as larvas da amostra que continha as novas substâncias morreram em um período de sete a dez dias”, relata o químico Francisco Marques. Esse é o tempo que uma larva normalmente gasta para se tornar um indivíduo adulto.
Modo de ação
Segundo o químico da UFPR, o mecanismo de ação das moléculas que estão sendo testadas é diferente daquele das substâncias empregadas nos produtos à venda no mercado hoje.
A ideia é utilizar moléculas com mecanismos de ação distintos e de forma alternada. “Essa troca de substâncias pode confundir as larvas e dificultar que elas criem resistência.”
Outro desafio que a equipe tem pela frente é desenvolver moléculas que possam ser utilizadas em produtos eficazes em todas as regiões brasileiras. “Uma substância ideal para um novo produto deve ser capaz de suportar variações de temperatura de norte a sul do país”, afirma Mário Navarro.
Além de se dedicar ao estudo de larvicidas, a equipe atua em outras frentes. Uma delas se refere a testes com uma planta asiática visando à produção de um repelente corporal. “Temos que trabalhar com várias metodologias e se possível integrá-las para minimizar os acidentes com o A. aegypti”, diz o zoólogo da UFPR.
Katy Mary de Farias
Especial para a CH On-line/ PR