Aquecimento global: a primavera não é mais a mesma

 

 A época de postura de ovos de uma espécie de andorinha da América do Norte foi adiada em nove dias. As marmotas do Colorado (EUA) agora encerram o período de hibernação cerca de três semanas antes do que faziam no fim da década de 1970. Algumas espécies de borboletas e invertebrados marinhos têm se dirigido cada vez mais para o norte para fugir do calor.

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Pássaros como a andorinha tiveram a postura de ovos prorrogada em vários dias devido ao aumento da temperatura global (foto: Universidade de Cornell)

O motivo para tamanhas mudanças é bem visível. Segundo estudo da equipe de Terry Root, pesquisadora da Universidade de Stanford (Califórnia/EUA), certos eventos característicos da primavera — como florescimento, postura de ovos e término do período de hibernação dos mamíferos — agora ocorrem cerca de cinco dias mais cedo a cada década, em média, devido ao aumento da temperatura global.

No artigo publicado em 2 de janeiro na revista Nature , os pesquisadores contam que analisaram 143 estudos científicos de outros autores, relativos a 1473 espécies de animais e plantas. Cada estudo estabelecia uma correlação entre aquecimento global e mudanças biológicas ocorridas em espécies do globo. Muitos deles revelaram que, devido ao aumento da temperatura nas últimas décadas, certas espécies passaram a reproduzir-se e migrar antes do esperado. Outros estudos indicam que, em virtude da alta temperatura, muitas espécies têm se movido para áreas que antigamente seriam demasiadamente geladas para sobrevivência.

Após analisar todos eles, a equipe de Root concluiu que realmente o aquecimento global tem impacto significativo nas populações de animais e plantas. Segundo os pesquisadores, cerca de 1200 espécies — 81% das 1473 estudadas — foram submetidas a mudanças biológicas com o aumento de temperatura.

O deslocamento de algumas espécies em virtude da alta temperatura, por exemplo, pode causar a separação entre presa e predador — o que seria bom para a presa, mas ruim para o homem caso ela fosse uma peste para as plantações. “Se houver deslocamento do predador e não da presa, podemos ter problemas”, diz Root. Ela acredita ainda que a rápida mudança de clima, associada à perda de hábitat e outras pressões ecológicas, pode levar ao desaparecimento de espécies — conseqüência que poderia ser evitada com a tomada de ações eficientes. “Há uma grande possibilidade de o aquecimento global causar um declínio de 50% na reprodução de aves aquáticas”, alerta.

Para reverter a situação e ajudar as espécies de plantas e animais que são prejudicadas com a mudança de clima, Root diz que devemos parar de usar a atmosfera como um ‘esgoto’. “Esse é um problema global e deve ser resolvido em um nível global”, disse, por e-mail, à CH on-line . “O Protocolo de Kyoto não é perfeito, mas é um primeiro passo. É embaraçoso que um país [os Estados Unidos] que coloca mais gás carbônico na atmosfera do que muitos países juntos não esteja fazendo nada. Temos que pressionar nossos políticos para que adotem uma postura global de negociação.”

Elisa Martins
Ciência Hoje on-line
10/02/03