Armadilha imunológica

Uma equipe de pesquisadores suíços descobriu que a resposta do sistema imune do organismo às infecções provocadas por vírus torna o ambiente corporal mais propício à proliferação de superinfecções bacterianas. Isso pode explicar por que doenças provocadas por bactérias são agravadas em pessoas que adquirem infecções virais.

Esses resultados, publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences deste mês, foram obtidos por meio de experimentos com camundongos. Submetidos à infecção com o vírus da coriomeningite linfocítica (doença que provoca sintomas semelhantes aos da gripe em roedores), os camundongos foram então infectados pela bactéria Listeria monocytogenes . Após três dias, eles apresentaram aumento de 1.000 vezes na contagem de bactérias, quando comparados aos de controle (sem o vírus).

Os pesquisadores observaram que a superinfecção bacteriana estava relacionada com a morte de granulócitos (células do sistema imunológico que combatem bactérias). Isso ocorria quando a produção de uma substância chamada interferon de classe I (IFN I) – produzida naturalmente pelo corpo para combater infecções virais – era mais elevada.

O baço de camundongo com o vírus e a bactéria, à esquerda, praticamente não apresenta granulócitos (pontos vermelhos). Já o baço de camundongo que não produz IFN I (à direita) apresenta vários granulócitos quando exposto à mesma situação.

Os resultados foram confirmados com a realização de experimentos semelhantes em camundongos que não produzem IFN I. Eles não apresentaram morte de granulócitos e seu organismo foi capaz de controlar a infecção bacteriana em poucos dias. Segundo um dos líderes da pesquisa, o cientista Alexander A. Navarini, da Universidade do Hospital de Zurique (Suíça), as razões biológicas para o interferon provocar a morte de granulócitos ainda estão sendo discutidas.

No artigo, os pesquisadores propõem alternativas para evitar a morte desses granulócitos, como a administração de substâncias anti-IFN I durante a fase aguda da infecção bacteriana. “Porém, esse tratamento precisa ser avaliado e deve ser administrado com cuidado, pois é capaz de provocar a propagação do vírus, mesmo que os granulócitos continuem intactos e a superinfecção de bactérias não ocorra”, afirma Navarini.

Segundo o cientista, outra alternativa seria utilizar substâncias que estimulem a proliferação dos granulócitos sem interferir na concentração do interferon, o que já está sendo estudado pela equipe. “Agora, nós investigamos como controlar adequadamente esses fatores para eliminar ambas as infecções.”

Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
30/10/2006