Tempos atrás aviões de controle remoto eram considerados apenas brincadeira de criança. Hoje em dia esse tipo de tecnologia é utilizado em aplicações sérias como em operações militares, na agricultura e até na exploração do passado da civilização humana. Na arqueologia, o uso de veículos aéreos não tripulados – os famosos drones – tem crescido, permitindo tornar mais ágil o mapeamento de sítios arqueológicos e prestando inestimável auxílio a arqueólogos de vários cantos do mundo na exploração de regiões perdidas no tempo.
Uma das necessidades básicas no estudo de áreas enormes, repletas de ruínas, como antigas cidades abandonadas, é a construção de um mapa detalhado desses sítios. Para isso, os arqueólogos tradicionalmente utilizam pipas ou balões com câmeras fotográficas acopladas, uma técnica bastante trabalhosa e demorada. Os drones controlados remotamente são mais rápidos e precisos no serviço: registrando tudo em fotos de alta resolução, eles ajudam a reconstruir os terrenos por onde andaram nossos antepassados.
“Trabalhar com pipas e balões era um pesadelo!”, recorda Kasper Hanus, arqueólogo polonês associado à Universidade de Sydney (Austrália). Ele utiliza drones nas ruínas de Angkor, no Camboja, onde há muito tempo existiu o chamado Império Khmer. Em Angkor, foram encontradas mais de mil ruínas de templos, como o Angkor Wat, considerado um dos maiores monumentos religiosos do mundo. “Precisávamos de vento adequado para mover as pipas e tínhamos que carregar as garrafas de hélio para encher os balões em campo; era tudo muito difícil. Os drones são mais fáceis de controlar e muito mais eficientes”, conta ele.
Para a engenheira norte-americana Julie Ann Adams, do Departamento de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, outra grande vantagem é o tempo – em apenas dez minutos é possível mapear sítios inteiros, segundo ela. “Os veículos têm a possibilidade de filmar as áreas estudadas, mas preferimos que tirem fotos de todo o lugar. Depois, baixamos para um computador para a construção de mapas em 3D”, explica ela. A engenheira utiliza drones para estudar a ruína de Mawchu Llacta, cidade inca misteriosamente abandonada no Peru.
Além de economizar tempo e tirar fotos precisas, os drones aparecem como uma alternativa barata. O modelo adotado por Hanus em suas pesquisas custou três mil euros e pode voar por vinte minutos. “Mas os preços variam muito: você pode comprar um por duzentos euros em uma loja de brinquedos ou um profissional por cinquenta mil euros”, esclarece o arqueólogo.
Já Adams utilizou, no princípio, um modelo de drone chamado Skate e depois construiu seu próprio veículo aéreo, ambos com autonomia de 15 minutos. O primeiro modelo, profissional, custou trinta mil dólares, mas para construir o segundo a pesquisadora diz que foram necessários apenas mil dólares. “Quando adquirimos o modelo Skate, ainda não havia a disponibilidade de peças para construção de uma aeronave própria, mas essa tecnologia vem se tornando bastante acessível”, afirma. “O custo de produção desse veículo tem caído muito nos últimos anos e é bastante fácil construir um.”
Apesar dos benefícios e da economia que essas aeronaves podem trazer para as pesquisas em arqueologia, no Brasil a sua adoção nesse campo ainda engatinha. Por aqui, drones voadores têm sido muito aplicados em áreas como a agricultura, mas seu uso arqueológico ainda é raro.
Uma das poucas exceções é o geólogo Julio Cezar Rubin, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, que planeja utilizar drones para complementar informações de campo e imagens de satélite em suas pesquisas com arqueologia pré-histórica no estado de Goiás. “Inicialmente pretendemos alugar um equipamento, que já está disponível no país em várias versões, e verificar a sua aplicabilidade; dependendo dos resultados, vamos comprá-lo”, conta.
Se os drones voadores ainda são raridade, uma tecnologia semelhante, que utiliza pequenos robôs terrestres de controle remoto, já tem sido usada no Brasil em áreas como a paleontologia. As pequenas máquinas são capazes de entrar em lugares de acesso difícil ou perigoso, como cavernas, para documentarem seu interior com fotos e vídeos sem colocar em risco vidas humanas. O barateamento das tecnologias utilizadas nesse tipo de equipamento deve tornar mais comum a presença desses úteis robôs nos sítios de pesquisa nacionais e internacionais num futuro não muito distante.
Isabelle Carvalho
Ciência Hoje On-line