Arte microscópica

Derivada da nanotecnologia, ramo da ciência que trabalha com partículas microscópicas, a nanoarte vem ganhando cada vez mais destaque internacional. Os brasileiros que aderem a essa nova modalidade de arte, filha direta da ciência e da tecnologia, também: três deles foram premiados na Exposição On-line Internacional Nanoart 2009-2010, organizada pela Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.

Lá, projetos desenvolvidos por estudantes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) ganharam o segundo e quarto lugares na premiação principal e o primeiro lugar na eleição popular. Os projetos brasileiros foram produzidos pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN). 

“Podemos analisar moléculas de materiais como alumínio, titânio e até de seres vivos e perceber ali uma imagem bela”

Ao todo, 16 países e 43 laboratórios participaram da exposição. Os critérios para a seleção das imagens incluíam a avaliação sob três pontos de vista: artístico, científico e tecnológico. Os dez projetos vencedores serão expostos no Festival de Nanoarte de Stuttgart, na Alemanha, e no Festival Internacional de Nanoarte de Kotkan, na Finlândia. As obras serão, ainda, leiloadas – e podem custar de US$ 1 mil a US$ 14 mil.

Na interseção entre a ciência e a arte, a nanoarte é uma expressão artística que trabalha com imagens de materiais em nanoescala, isto é, em escala atômica (um nanômetro é um milhão de vezes menor que 1mm). Elas são obtidas por intermédio de microscópios eletrônicos de alta precisão, que chegam a ampliar seus alvos em 50 ou 60 mil vezes.

Para Rorivaldo Camargo, da UFSCar – cuja obra, ‘Sea coral’ [‘Coral marinho’], saiu vitoriosa na eleição do público –, a nanoarte tem o objetivo de “mostrar a ciência de uma maneira mais criativa”. “Minha imagem surgiu por acaso. Podemos analisar moléculas de materiais como alumínio, titânio e até de seres vivos e perceber ali uma imagem bela, quase uma obra de arte”, diz ele. 

'Sea coral', nanoarte de Rorivaldo Camargo
‘Sea coral’ [‘Coral marinho’], de Rorivaldo Camargo, ficou em primeiro lugar na votação popular (imagem: Rorivaldo Camargo).

Como foram feitas as obras

Os trabalhos enviados pelos brasileiros foram produzidos segundo o que chamam de método hidrotermal de microondas. Elson Longo, coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica da UFSCar (Liec), explica que o processo inclui conferir, com o auxílio de raios-X, se o material de base é cristalino e, em seguida, levá-lo ao microscópio para observar o comportamento das partículas que o compõem.

“Essa primeira etapa nos permite transformar sistemas extremamente complexos e entender melhor a origem dos diversos materiais”, afirma.

A dimensão artística do trabalho entra em cena quando os técnicos selecionam de que maneira os materiais serão fotografados, o que é feito com o próprio microscópio. Depois, essas imagens, que inicialmente estão em preto e branco, são coloridas com programas de computador. No caso do projeto da UFSCar, o objetivo era fazer com que as obras lembrassem ao máximo a natureza.

‘Net-like’, obra de nanoarte
A obra ‘Net-like’ [‘Feito rede’], do químico Ricardo Tranquilin, obteve o segundo lugar na internacional. Ele fez uma teia a partir de imagens de dióxido de alumínio (Ricardo Tranquilin).
“Conhecer como os materiais são sintetizados ajuda a descobrir novas aplicações para eles”

‘Net-like’ [‘Feito rede’], de Ricardo Tranquilin, que conquistou o segundo lugar, usou imagens de dióxido de alumínio em dimensões nanométricas. ‘Bees at home’ [‘Abelhas em casa’], de Daniela Caceta, que terminou na quarta posição, foi feita a partir de nitrato de cálcio. Os dois são estudantes do Unesp em Araraquara.

Elson Longo ressalta que a pesquisa em nanotecnologia feita no Liec é de extrema importância para o aprimoramento de algumas ferramentas.  “Conhecer como os materiais são sintetizados ajuda a descobrir novas aplicações para eles”, explica o químico. A partir dessa técnica, é possível desenvolver chips de computador, sensores de gases e catalisadores.

Para divulgar a nanoarte também no Brasil, o grupo da Federal de São Carlos organizou uma mostra com 35 imagens, que serão expostas em museus e universidades de todo o país a partir de outubro. E os ‘nanoartistas’ da instituição acabam de lançar o vídeo Nanoart 5, composto por cinco obras inéditas animadas ao som do Bolero de Ravel, e que já está disponível na internet.

Assista à íntegra do vídeo no YouTube ou confira abaixo uma seleção de cenas do trabalho montada por nossa equipe:

Assista aqui a cenas do vídeo ‘Nanoart 5’

Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line