Como se não bastassem as extensas áreas de desmatamento da Amazônia e seus recentes escândalos, uma rede de vias ilícitas vem crescendo na região. Em um levantamento inédito e ainda não concluído, pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) detectaram mais de 95 mil quilômetros de estradas clandestinas, em uma área que vai do sudeste do Acre ao centro-oeste e sul do Pará.
Os trechos em vermelho no mapa representam a rede de estradas não oficiais identificadas em parte da Amazônia no levantamento realizado pelo Imazon
Essa metodologia de mapeamento é aplicada pelo Imazon desde 2003, mas o trabalho dos pesquisadores foi iniciado muito antes disso. Em 1985, eles começaram a monitorar o centro-oeste do Pará. Em 2001, apenas nessa região, as estradas ilegais somavam cerca de 20 mil km. Desde então, a rede tem crescido de forma avassaladora. Até 2003, havia sido analisado um território de 1,3 milhão de km 2 – o equivalente a somente 28% da Amazônia legal – e a trama não-oficial detectada já tinha avançado em torno de 95.355 km. Esse valor é quase dez vezes maior do que a quilometragem de todas as rodovias federais e estaduais da região juntas. Só no Pará, são mais de 60 mil km de vias não-oficiais.
O objetivo do Imazon é fornecer as informações de seu trabalho ao Ministério do Meio Ambiente e ao Ibama para que sejam criadas unidades de conservação e zoneamento fundiário. Ainda assim, para que o trabalho em prol da preservação tenha continuidade, uma fiscalização idônea é crucial: “É importantíssimo criar áreas de conservação, mas elas não significam a imunidade ao desmatamento. Precisam ser complementadas por outras medidas”, alerta Veríssimo. A fim de conter o surgimento de novas estradas não-oficiais, o programa pretende mapear toda a Amazônia até o final de 2005.
Lia Brum
Ciência Hoje On-line
09/06/05