56 pequenos passos podem ajudar a decifrar a trajetória do homem. Em meio às cinzas do vulcão Roccamonfina, na Itália, foram encontraram pegadas fossilizadas que podem ter pertencido a três humanos que desciam a encosta desse vulcão há mais de 300 mil anos. Essa é a conclusão de três pesquisadores coordenados por Paolo Mietto, da Universidade de Pádua (Itália), que analisaram os caminhos gravados na cinza e encontraram indícios de que eles foram feitos por hominídeos totalmente bípedes, que só usavam as mãos como apoio nas descidas íngremes.
À esq., trilha em zigue-zague com as mais antigas pegadas humanas (detalhe à dir.), encontradas na Itália (imagens: P. Mietto & Marco Avanzini)
As marcas deixadas nas cinzas vulcânicas já eram conhecidas pela população local, que as apelidou de ‘trilhas do diabo’ por considerá-las ‘sobrenaturais’. As pegadas têm cerca de 20 centímetros de comprimento e 10 de largura — o que indica que seus ‘donos’ deveriam ter, no máximo, 1 metro e meio — e formam três trilhas distintas. A primeira tem 27 pegadas ao longo de um caminho de 13,4 m feito em zigue-zague, provavelmente para amenizar a descida.
A segunda trilha tem 8,6 m de comprimento e 19 passos. Ao contrário da anterior ela desce reta, mas se inclina cerca de 45 graus para a direita no fim. Nela, existem evidências de um escorregão e ao lado da trilha aparece uma mão espalmada que deve ter sido usada para amparar na descida. Na última não existe sinal de desequilíbrio: ela é coberta por 10 passos que seguem uma linha reta de quase 10 m de comprimento.
Esquema de duas das três trilhas encontradas com pegadas com mais de 300 mil anos de idade, em meio às cinzas do vulcão Roccamonfina
A idade das pegadas foi determinada por comparação com as fases de desenvolvimento do vulcão, obtidas com técnicas radiométricas. O Roccamonfina se desenvolveu em três etapas, entre 630 e 50 mil anos atrás, quando extinguiu sua atividade. As pegadas aparecem na superfície de uma rocha provavelmente formada durante a segunda fase de evolução do vulcão, entre 385 e 325 mil anos atrás.
“O fato de todas as trilhas terem a mesma direção indica que os ‘donos’ das pegadas poderiam estar fugindo de uma erupção do Roccamonfina”, diz Mietto à CH on-line. “Mas infelizmente não é possível por ora provar essa hipótese atraente.”
Se a idade das pegadas for confirmada, é provável que elas tenham pertencido à espécie Homo heidelbergensis , surgida há cerca de 600 mil anos. Isso faz delas as mais antigas pegadas associadas ao gênero Homo , o mesmo dos homens atuais ( Homo sapiens ).
Gisele Lopes
Ciência Hoje on-line
13/03/03