Uma descoberta divulgada esta semana pode ajudar a explicar a origem dos oceanos e da vida na Terra. Pela primeira vez, foi identificada na subsuperfície de um asteroide a presença de materiais orgânicos e de água em forma de gelo. O achado dá força à hipótese de que a água dos oceanos foi trazida ao nosso planeta por meio do bombardeio desses corpos celestes.
A detecção pioneira foi feita de forma independente por duas equipes de cientistas – uma delas com a presença de uma astrônoma brasileira – e publicada na edição de hoje da revista Nature.
As duas equipes analisaram o espectro da radiação solar refletida pelo asteroide 24 Themis. A identificação de água e compostos orgânicos foi possível porque a reflexão da luz por cada corpo varia de acordo com a sua composição. Ambas as pesquisas se basearam em dados colhidos pelo telescópio sensível à radiação infravermelha mantido pela agência espacial norte-americana (Nasa) no Observatório de Mauna Kea, no Havaí.
O 24 Themis é um dos maiores integrantes do Cinturão Principal de Asteroides, zona do Sistema Solar entre as órbitas de Marte e Júpiter que concentra um grande número desses corpos, além do planeta anão Ceres. Aproximadamente 480 milhões de quilômetros distante do Sol, esse asteroide teve origem na fragmentação de um corpo maior ocorrida há mais de um bilhão de anos.
Distribuição ampla
Os resultados de ambos os estudos indicam que tanto o gelo como os materiais orgânicos estão amplamente distribuídos por toda a superfície do 24 Themis. Um dos artigos é assinado por Andrew S. Rivkin e Joshua P. Emery. O outro trabalho, coordenado por Humberto Campins, da Universidade da Flórida Central (EUA), tem como coautora a Thais Mothé Diniz, professora do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do Observatório Nacional.
Mothé-Diniz conta que a descoberta foi inesperada, uma vez que uma camada de gelo espalhada extensamente pela superfície não resistiria à proximidade do asteroide com o Sol. “Por isso, acreditamos que o gelo esteja em uma camada um pouco mais profunda”, explica. “No entanto, é preciso investigar as causas da ascensão desse material à superfície. Uma das hipóteses é o impacto de meteoritos sobre o 24 Themis.”
A equipe integrada pela pesquisadora brasileira chegou a suas conclusões após analisar a radiação infravermelha refletida pelo 24 Themis durante sete horas. Como o período de análise abrangeu 84% de uma rotação completa, que dura 8,37 horas, os cientistas puderam observar tais indícios na radiação refletida por quase toda a superfície do asteroide.
Além de reforçarem a teoria de que a água dos oceanos é proveniente de asteroides, os resultados podem dar novo fôlego à hipótese de que a vida na Terra tem sua origem no espaço. “Ao bombardearem o planeta, esses corpos celestes podem ter deixado aqui compostos orgânicos que contribuíram para o surgimento dos primeiros seres vivos”, frisa Thais Mothé Diniz.
Camilla Muniz
Ciência Hoje On-line