Atlas disseca distribuição de religiões no Brasil

Populações O maior país católico do mundo não é mais aquele: a proporção da população que se declara adepta dessa religião, que era de 91,8% em 1970, caiu para 73,9% em 2000. Paralelamente, houve um súbito crescimento de fiéis evangélicos — grupo que se destaca também pela tentativa de se afirmar na vida política do país. Os dados, revelados pelos últimos recenseamentos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), têm chamado a atenção dos pesquisadores.

null Para examinar essas mudanças de perto, conhecer o perfil socioeconômico dos grupos religiosos predominantes e mapear sua distribuição, uma equipe da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), da École Normale Supérieure e do Centre de Recherche et de Documentation sur L’Amérique Latine (ambos da França) elaborou o Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil, com base nos dados dos censos de 1991 e 2000. Em 240 páginas vastamente ilustradas com mapas detalhados intercalados por análises explicativas, a obra fornece uma perspectiva elucidativa sobre o movimento transitório de caráter religioso que ocorre hoje no Brasil.

O cruzamento de dados relativos à religião e dos indicadores socioeconômicos refletiu a influência cada vez maior da esfera religiosa na vida pública no país. “Procuramos mostrar por meio de mapas o quanto é real no Brasil a relação entre política e fé religiosa, que considero um retrocesso para o desenvolvimento político do país”, avalia Cesar Romero, professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio e um dos autores do livro.

Censo demográfico Católicos Evangélicos pentecostais Evangélicos de missão Total de evangélicos Outras religiões Sem religião 1970 91,8 – – 5,2 2,5 0,8 1991 83,3 3,2 3,4 9,0 3,6 4,7 2000 73,9 10,6 5,0 15,6 3,2 7,4

Participação (em %) dos grupos religiosos na população brasileira, que passou
de 93.470.306 habitantes em 1970 para 168.870.803 em 2000. Fonte: IBGE

O atlas mostra como são quase coincidentes os mapas da distribuição no território brasileiro dos votos em Anthony Garotinho para a Presidência da República em 2002 e dos evangélicos pentecostais — grupo religioso em maior ascensão. Além disso, as regiões em que o ex-governador do Rio teve melhor votação foram aquelas em que há um maior número de repetidoras da Rede Record, canal de TV aberta da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) — facção que mais cresce entre os evangélicos.

“Os pastores ’aconselham’ abertamente os fiéis a votarem em determinados candidatos, o que justifica a quantidade de votos”, observa Romero. “A máquina eleitoral do Partido Socialista Brasileiro (PSB) não era forte o bastante para que Garotinho alcançasse a votação que teve.”

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À esq., participação dos evangélicos pentecostais na população de cada região. À
dir., proporção de votos para Garotinho nas mesmas regiões (fontes: IBGE/TSE)

Em 2000, os pentecostais somavam 18 milhões de brasileiros com uma taxa de crescimento média anual de 8,3%, entre 1991 e 2000. Eles se dividem em 15 grupos, entre os quais Assembléia de Deus, Congregação Cristã e IURD representam 75% dos fiéis. As estatísticas mostram sua implantação maciça entre as camadas populares das regiões urbanas, sobretudo nos estados do Rio e São Paulo.

Evangélicos pentecostais não devem ser confundidos com o que o atlas chama de evangélicos de missão — os protestantes (batistas, adventistas, luteranos, presbiterianos) que, com 8,5 milhões de seguidores, constituem o terceiro maior grupo religioso do país.

Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil 
Cesar R. Jacob, Dora R. Hees, Philippe Waniez e Violette Brustlein
Rio de Janeiro/Editora PUC-Rio, São Paulo/Edições Loyola, 2003
240 páginas – R$ 75

Maria Ganem
Ciência Hoje On-line
03/06/03