Aves poderiam detectar longitude

Algumas aves são capazes de levar em conta diferenças de longitude em suas rotas migratórias de longa distância, segundo sugere um estudo russo. Os ornitólogos já sabiam que certas espécies conseguem direcionar sua rota em função de alterações na latitude (eixo norte-sul), mas ainda não havia qualquer indício de que a posição no eixo leste-oeste (longitude) também afetasse sua orientação.

O rouxinol-pequeno-das-caniças (Acrocephalus scirpaceus) é uma ave de porte médio (de 12 a 14 cm) encontrada na Ásia e na Europa durante o verão e a primavera. No inverno, desloca-se para a África, onde costuma hibernar (foto: Wikimedia Commons).

A conclusão veio de um estudo no qual vários espécimes do rouxinol-pequeno-das-caniças (Acrocephalus scirpaceus), espécie encontrada em toda a Europa no verão, foram capturados e desviados de sua rota migratória. As aves foram soltas mais de mil quilômetros a leste de sua rota de retorno original, realizada durante a primavera no hemisfério Norte.

Ainda assim, elas se mostraram capazes de corrigir seu trajeto e chegar exatamente aos mesmos pontos onde costumam procriar. O estudo foi feito por pesquisadores do Instituto de Zoologia da Academia Russa de Ciências.

“Os resultados sugerem que o rouxinol-pequeno-das-caniças é capaz de detectar uma mudança longitudinal e executar a navegação por duas coordenadas, latitudinal e longitudinal”, explica à CH On-line o ornitólogo russo Nikita Chernetsov, um dos autores do estudo publicado na edição desta semana da revista Current Biology.

Duas hipóteses
Os pesquisadores ainda não sabem exatamente como os pássaros conseguem detectar a longitude, mas têm duas hipóteses para explicar esse fenômeno. A primeira seria a existência de um segundo relógio interno nas aves, além daquele que regula os ritmos biológicos em outros animais. “Esse relógio seria regido pelo tempo do local de origem, que se adapta ao período de luz do local onde o pássaro se encontra de maneira mais lenta que o outro relógio”, especula Chernetsov.

A outra hipótese envolve o uso de informação geomagnética: as aves seriam capazes de se orientar com a ajuda do campo magnético da Terra. “Porém, essa possibilidade seria viável apenas em algumas partes do mundo”, ressalta o ornitólogo. “Ela funcionaria em locais onde a intensidade total desse campo e a inclinação não variam de acordo com a longitude”.

Chernetsov destaca que no oeste da Rússia, onde o experimento foi realizado, o campo geomagnético poderia ser utilizado teoricamente para detectar a longitude. No entanto, diversos autores – inclusive ele próprio – são bastante cautelosos com relação a essa possibilidade, já que ela não pode ser aplicada em escala global.

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
31/01/2008