Biodiversidade? Conheço de algum lugar…

Ter ouvido falar em biodiversidade é uma coisa. Saber definir o termo, outra – pelo menos segundo uma pesquisa global realizada pela União para o BioComércio Ético (UEBT), associação sem fins lucrativos que busca promover o uso respeitoso da biodiversidade. O Barômetro da Biodiversidade 2015 ouviu mil pessoas em cada um dos 16 países participantes, incluindo o Brasil. Por aqui, embora 92% dos entrevistados já tenha ouvido falar no assunto, menos da metade deles consegue dar uma definição satisfatória do termo.

Esta foi a sétima vez que a pesquisa foi realizada. Por meio de um questionário, o estudo procura entender as visões das pessoas sobre a biodiversidade, o que pode ajudar a identificar onde estão possíveis lacunas de conhecimento e ajudar a traçar planos de ação para aumentar a reflexão sobre o tema. “O barômetro ajuda os governos, empresas, ONGs e outros atores a avaliarem como as pessoas estão tratando esse tema ao longo dos anos”, explica Cristiane de Moraes, representante da UEBT na América Latina. “Será que o seu interesse em saber o que é biodiversidade está aumentando? É o que queremos saber”.

Definido pela Convenção da Diversidade Biológica de 1992, o termo biodiversidade compreende a variedade de organismos vivos existentes no planeta ou em uma determinada região do globo, incluindo ecossistemas terrestres, marinhos e outros. No entanto, uma parcela importante da população consultada confunde essa palavra com proteção ao meio ambiente ou sustentabilidade.

Televisão, fonte de informações sobre biodiversidade
No Brasil e no mundo, a televisão foi citada como uma das principais fontes de informações sobre biodiversidade. (foto: Al Ibrahim / Flickr / CC BY-SA 2.0)

Do total de brasileiros que já ouviram falar em biodiversidade, 44% sabem dizer exatamente o que significa o termo – um número alto se comparado à média mundial, de 28%. Ainda segundo os resultados da pesquisa, a televisão e o rádio são as maiores fontes de informação que os brasileiros têm sobre biodiversidade, seguidos pela escola e por artigos em jornais e revistas.

 

Consciência em ascensão

Ao compararmos o resultado obtido em 2015 com o de anos anteriores, verifica-se um aumento na porcentagem da população global que já ouviu falar sobre e sabe o que é biodiversidade. “Entre 2009 e 2015, o nível de consciência sobre o tema aumentou de 56% para 64% em países como Alemanha, França, Reino Unido e EUA. No Brasil, este número é alto desde de o primeiro ano de pesquisa (2010), com 94%, e vem se mantendo constante com 92% em 2015”, calcula Moraes. Esta tendência reflete, possivelmente, uma série de esforços de divulgação nesse sentido, sobretudo a pretexto da realização da Rio+20 em 2012. “Eventos como esse dão maior visibilidade ao tema e aproximam as pessoas dele”, avalia a pesquisadora.

A especialista, obviamente, é uma grande entusiasta do tema e considera de fundamental importância promover na população a discussão sobre biodiversidade. “Acredito que uma população melhor informada pode ser mais participativa quanto à conservação da biodiversidade através do seu uso sustentável”, advoga. Uma parcela muito alta (87%) dos entrevistados pelo Barômetro de Biodiversidade ao redor do mundo declarou acreditar que é importante contribuir pessoalmente para a conservação da biodiversidade. Porém, a grande maioria não sabe como agir e espera das empresas, governos e outras organizações um melhor direcionamento quanto às ações individuais e coletivas a tomar.

Exposição sobre biodiversidade na Rio+20
Grandes eventos como a Rio+20 ajudam a disseminar o conhecimento da biodiversidade pela população. (foto: Sofia Moutinho)

Além de falar diretamente às questões ambientais, a biodiversidade também se envolve na economia dos países, pois é uma das grandes fontes de insumos para indústrias alimentícias e farmacêuticas. Atualmente, estima-se que mais de 7 mil espécies sejam utilizadas como alimento no mundo. “Quem habita áreas rurais e depende de subsistência deve dar atenção extra ao assunto”, destaca Moraes.

 

Limitações

Os números levantados pelo Barômetro da Biodiversidade podem ajudar a ter uma visão sobre o conhecimento da população acerca do tema, mas estão longe de esgotar essa relação entre o público e a ciência. “É preciso entender melhor esses resultados e, acima de tudo, adicionar estudos qualitativos para compreender melhor a percepção das pessoas sobre a biodiversidade, em particular no que se refere a definir o termo”, aponta a jornalista Luisa Massarani, da Fundação Oswaldo Cruz.

Massarani – que já esteve à frente de pesquisas sobre a percepção do brasileiro acerca da ciência e da tecnologia  – acredita que o estudo global é útil para comparar como a biodiversidade é vista em diferentes culturas e, também, para respaldar iniciativas de divulgação científica sobre o tema. Porém, não é capaz de explicar completamente a relação do público com a biodiversidade. “Na escola, busca-se estabelecer algumas definições e depois, com testes, busca-se mensurar em que medidas os alunos aprenderam essas definições. Na vida cotidiana, a realidade é outra. Algumas pessoas talvez não saibam definir uma cadeira, mas certamente se relacionam com uma cadeira em seu cotidiano”, compara. “Por outro lado, saber definir ‘satisfatoriamente’ biodiversidade não é sinônimo de se relacionar ‘satisfatoriamente’ com a biodiversidade, por exemplo, cuidando da sua conservação”.

Valentina Leite
Instituto Ciência Hoje/ RJ