Um estudo sueco acaba de acrescentar mais um motivo para a prática de exercício físico. Em artigo publicado esta semana na PNAS, pesquisadores apontam a associação entre boa forma cardiovascular e desempenho cognitivo em jovens do sexo masculino. O acompanhamento de mais de um milhão de meninos entre 15 e 18 anos nascidos na Suécia mostrou que os que tiveram melhora na performance cardiovascular apresentaram boa capacidade de raciocínio, memória e solução de problemas na idade adulta.
Segundo os autores do artigo, já se sabia que o exercício físico é um fator que afeta a plasticidade do cérebro, que é a habilidade que esse órgão tem de se adaptar a um novo ambiente, uma nova situação ou às consequências de um ferimento grave. Mas a relação entre exercício e as funções cognitivas ainda era desconhecida.
O neurocientista Georg Kuhn, da Universidade de Gotemburgo (Suécia), acredita que a influência da capacidade cardiovascular sobre a cognição não é causada apenas pela melhor oxigenação do cérebro. “Achamos que há muitos outros fatores ligados ao sistema nervoso periférico que ajudam o cérebro a ficar saudável”, diz em entrevista à CH On-line. “Alguns desses fatores podem levar as células cerebrais a crescer e ficar mais saudáveis e mais resistentes a doenças”, acrescenta.
O acompanhamento dos jovens, que prestaram serviço militar obrigatório entre 1968 e 1994, não foi feito diretamente. Os pesquisadores tiveram acesso aos bancos de dados do conselho sueco de educação, do exército e da agência de estatísticas sueca. Segundo Kuhn, ao todo foram analisados arquivos referentes a um milhão e duzentos mil indivíduos.
Na época do alistamento, a capacidade cardiovascular dos jovens foi medida a partir de exercícios ergométricos. A força isométrica dos músculos foi avaliada por meio de tarefas como estender o joelho, flexionar o cotovelo e apertar a mão. Além disso, foram aplicados testes que avaliaram a capacidade lógica e verbal, a percepção espacial e a habilidade na resolução de problemas matemáticos e físicos. Esses resultados foram cruzados com os coletados durante os últimos anos da fase escolar.
O papel dos exercícios
A análise dos dados mostrou que os jovens que mais exercitaram sua capacidade cardiovascular apresentaram níveis de inteligência significativamente maiores que os outros. “Pelo que sabemos, esse é o primeiro estudo que demonstra uma associação clara e positiva entre a boa forma cardiovascular e a performance cognitiva em um grupo grande de jovens adultos do sexo masculino”, dizem os autores no artigo.
Por meio da comparação dos dados de gêmeos ou de irmãos com idade próxima também alistados no exército, os pesquisadores constataram que a genética interfere pouco na boa forma cardiovascular. Fatores ambientais, como a prática de exercício físico, têm maior influência sobre essa característica.
“Não queremos especular quanto alguém deve se exercitar”, esclarece Kuhn. “Mas nossos resultados mostram que o exercício deve ser feito especialmente quando se quer potencializar o aprendizado”, completa.
Mas, antes de correr para a academia mais próxima e começar uma atividade física, um aviso: a força muscular está pouco associada ao desempenho cognitivo. Além disso, as conclusões do estudo são restritas a meninos na faixa etária analisada.
Os autores do artigo acreditam que os resultados da pesquisa podem ser um instrumento para estimular o aumento ou a manutenção do número de aulas de educação física nas escolas, como forma de combate ao sedentarismo.
Raquel Oliveira
Ciência Hoje On-line