Boa notícia para alérgicos a picadas de insetos

Um tratamento recém-criado no Brasil pode significar o alívio de alérgicos a picadas de insetos no Brasil. Trata-se de uma imunoterapia eficaz contra o veneno de insetos típicos do país. A novidade foi desenvolvida em parceria pelo Instituto de Investigação em Imunologia do Hospital das Clínicas de São Paulo e pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp – Rio Claro).

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Formigas do gênero Solenopsis , como a da foto acima, foram alguns dos insetos cujo veneno foi testado no estudo (foto: Texas A&M University)

“Até agora, o material utilizado para diagnóstico e tratamento dessas alergias era importado dos Estados Unidos ou da Europa e muitas vezes não se aplicava aos insetos de nosso país, já que muitos só existem aqui”, explica o alergista Fábio Morato Castro, supervisor do serviço de Imunologia Clínica e Alergias do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Para desenvolver antídotos específicos para as picadas de insetos brasileiros, amostras de sangue de alérgicos foram recolhidas, colocadas em contato com o veneno de espécies locais de vespas, abelhas e formigas e estudadas em laboratório. Os pesquisadores puderam, assim, entender como substâncias próprias do sangue de alérgicos reagem às proteínas dos venenos nacionais. Foi avaliada a reação dos pacientes ao veneno de vespas do gênero Polistes e formigas do gênero Solenopsis , entre outras espécies.

Similar às tradicionais vacinas importadas, o novo tratamento destina-se a alérgicos que já foram picados e apresentaram fortes reações anafiláticas, e tem a duração de três anos. “Durante os primeiros 45 dias, a aplicação subcutânea da vacina deve ser feita uma vez por semana”, conta Castro. “Após esse período, o paciente entra em fase de manutenção e só precisa receber uma dose por mês. Em um ano já está protegido e, em três, imune.”

Para o futuro, existe um projeto de levar a pesquisa à Amazônia, para estudar da mesma maneira insetos ainda desconhecidos e as diferentes reações dos venenos deles em pessoas da área urbana de São Paulo e habitantes da Amazônia. “A idéia é aprofundar o estudo dos insetos brasileiros para que se possa caracterizar os componentes e propriedades de seus venenos de forma mais detalhada e produzir, assim, vacinas cada vez mais específicas e eficientes”, afirma Castro.

O estudo, no entanto, está no começo. Em fase de testes, o tratamento apresenta de 98% a 100% de eficácia, mas as possíveis reações adversas são ainda desconhecidas e podem aparecer sob a forma de crises alérgicas.”O que o alérgico precisa saber é que o tratamento é difícil, envolve um risco e não pode ser feito por pessoas sem experiência na área”, avalia Castro. A fórmula é utilizada no Hospital das Clínicas somente em pesquisa clínica e deve demorar alguns anos para entrar no mercado brasileiro. 

Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
02/11/04