Brasil foi alvo de asteróide no Cretáceo

 

Brasil foi alvo de asteróide no Cretáceo Há mais de 70 milhões de anos, a queda de um asteróide de cerca de 600 metros de diâmetro causou destruição num raio de centenas de quilômetros e afetou toda a América Latina. Isso ocorreu aqui mesmo no sul do Brasil, como recentemente comprovaram cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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Topografia da cratera de Vargeão com base nos dados do radar interferométrico do ônibus espacial Endeavour (imagens: A.P. Crósta e C. Kazzuo)

 

O impacto do asteróide, cuja força foi semelhante à de 550 mil bombas atômicas iguais à de Hiroshima, gerou uma cratera de 12 km de diâmetro no atual município de Vargeão (SC). O geólogo Álvaro Crósta e o estudante de graduação César Kazzuo passaram uma semana no local em busca de evidências de que a cratera, já parcialmente desgastada por milhões de anos de erosão, foi produzida pelo impacto de um corpo celeste de grande dimensão. Essas ‘cicatrizes estelares’ são chamadas pelos cientistas de astroblemas.

Os pesquisadores recolheram 50 amostras de rochas com até 1 quilo para analisar na Unicamp. A análise do material revelou estrias nas rochas chamadas de cones de estilhaçamento, o que descartou qualquer outra origem para a cratera. “Após o impacto, ondas de choque se propagam pelo terreno e provocam estrias nas rochas muito próximas à queda do asteróide”, disse Crósta. “Não existe nenhum outro fenômeno natural que tenha força o suficiente para formar esses cones.”

Nos anos 1970, geólogos detectaram bem no meio da cratera o inusitado afloramento de uma camada de um tipo de arenito chamado Botucatu — no oeste catarinense, essa camada rochosa se encontra em geral a mais de 700 metros de profundidade. Desde então, Crósta passou a desconfiar que esse afloramento fora causado pelo impacto de um corpo celeste. Segundo ele, o choque teria removido uma grande quantidade de rocha do local e a camada de arenito teria ascendido para estabilizar o terreno.

A queda do asteróide ocorreu no período Cretáceo, entre 70 e 110 milhões de anos atrás, quando os dinossauros atingiram seu auge e os continentes americano e africano estavam se separando. A idade exata da cratera será determinada pelos cientistas pelo método de datação por isótopos de argônio, o que pode levar até um ano.

 

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As estrias encontradas em amostras de arenito (esq.) e basalto (dir.) foram provocadas pelo choque de um asteróide no período Cretáceo

No Brasil, as crateras do Domo de Araguainha (MT/GO), de 40 km de diâmetro, da Serra da Cangalha (TO), de 12 km, e de Riachão (MA), de 4 km, são astroblemas confirmados. Cinco outras suspeitas no país ainda precisam ser analisadas pelos pesquisadores. No mundo, foram detectados cerca de 160 astroblemas, muitos ainda não investigados.

 

As crateras provocadas pelo impacto corpos celestes podem favorecer a formação de depósitos de petróleo, gás e minerais de grande valor comercial. Em Santa Catarina, existe a possibilidade remota de se encontrar reservas de petróleo e gás natural, que podem ter sido aprisionados pelas fissuras da rocha produzidas pelo impacto. No entanto, o local já foi pesquisado pela Petrobras e nada ainda foi encontrado.

Segundo Crósta, a maior reserva de níquel do mundo está associada a um astroblema. Localizada em Sudbury, Canadá, essa jazida seria proveniente do próprio asteróide que caiu no local, cujo núcleo era formado predominantemente por níquel e ferro.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
23/09/03