Brasil vai quebrar recorde em transmissão de dados

Transmitir em um minuto um volume de informação capaz de encher mais de 4 CDs: essa é a promessa de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que pretendem quebrar na madrugada de 11 de novembro o recorde de velocidade de transmissão de dados entre Brasil e Estados Unidos. O Laboratório de Física de Altas Energias da Uerj deve enviar entre meia-noite e uma hora da manhã cerca de 180 gigabytes a Pittsburgh (esses dados precisariam de mais de 250 CDs para serem armazenados).

A proeza será realizada no âmbito do projeto Giga, que tem o objetivo de conectar instituições de pesquisa brasileiras por meio de uma rede de alta velocidade gerenciada pela RNP. “Essa transmissão será um marco para o projeto Giga e para a pesquisa científica em geral”, afirma o físico Alberto Santoro, coordenador da equipe que realizará o experimento. “Fazer física atualmente significa trabalhar com grandes pacotes de informação, que precisam ser transmitidos em alta velocidade para outros centros de pesquisa.”

O recorde será quebrado durante uma conferência de supercomputação (SC2004) realizada em Pittsburgh. A transmissão servirá como teste para avaliar a capacidade da rede brasileira de manipular e compartilhar um grande volume de dados de maneira eficiente. Essa capacidade ‐ um dos maiores desafios enfrentados pelos cientistas hoje ‐ é essencial para viabilizar a participação brasileira no projeto Grid. O objetivo dessa iniciativa, que conta com a participação dos principais países do mundo, é processar dados obtidos por aceleradores de partículas subatômicas.

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O desenho indica a localização do túnel subterrâneo onde está sendo construído o novo acelerador de partículas do Cern. Com 27 km de extensão, o túnel se encontra cerca de 100 m abaixo da superfície, na fronteira da Suíça com a França (foto: Cern)

Os dados enviados na transmissão de 11 de novembro poderão ser reconhecidos por um dos quatros detectores de partículas elementares que farão parte do novo acelerador de partículas do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern, na sigla em francês). Esse aparato deve começar a funcionar em três anos e terá a capacidade de produzir cerca de 20 petabytes de informação por ano ‐ o equivalente a 28 milhões de CDs.

O detector ‐ que ocupa a área de um quarteirão e tem a altura de um prédio de oito andares ‐ produz um choque entre partículas e monitora sua trajetória através de sinais eletrônicos. Esses sinais são tratados por softwares e transformados em vetores que indicam as propriedades das partículas e permitem mapeá-las e reconstituir seu histórico.

Na operação, os dados reconhecidos pelo detector serão transmitidos por uma rede exclusiva à unidade central do Cern e de lá para unidades de outros países através da tecnologia Grid ‐ rede que funciona como uma malha que cruza informações de diferentes computadores e permite o compartilhamento e a transferência de dados. Em cada país, as informações poderão ser transmitidas a unidades regionais, como universidades e centros de pesquisa, e finalmente a computadores pessoais isolados.

“A viabilização da Grid é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa científica e vai dar ao estudante e ao pesquisador brasileiro a oportunidade de participar de experimentos físicos mundiais e trabalhar nas mesmas condições que europeus e americanos”, comemora Santoro.

A meta do projeto Giga é produzir até 2007 uma rede que atinja a velocidade de 10 gigabytes por segundo, ou duzentas vezes mais rápida do que a transmissão de 11 de novembro. Isso permitiria gravar 100 CDs por minuto. No entanto, os internautas terão de esperar para poder usufruir da tecnologia: embora ela já esteja disponível, ainda não há previsão de aplicações fora do circuito acadêmico. 

Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
10/11/04