Brasileiros sintetizam substância anticancerígena

Boas notícias no combate à leucemia. A partir de compostos encontrados na natureza, pesquisadores do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NPPN/UFRJ) sintetizaram uma nova substância anticancerígena eficaz mesmo em células resistentes aos agentes quimioterápicos comuns.

Um agente de defesa da flor da Petalostemon purpurea inspirou a síntese de um composto eficaz contra a leucemia (foto: Margery Melgaard – Universidade de Wisconsin / Stevens Point)

O novo composto é “inspirado” em um agente de defesa contra infecções de vírus e bactérias produzido pela flor da espécie norte-americana Petalostemon purpurea . A substância natural, velha conhecida dos cientistas por sua atividade antitumoral, foi sintetizada pela primeira vez pelos pesquisadores da UFRJ e, nos testes realizados no Laboratório de Imunologia Tumoral do Departamento de Bioquímica Médica, chamou a atenção por sua atividade em células de leucemia resistentes a diversas drogas.

“Além disso, a substância mostrou-se inofensiva para as células normais, ponto em que a maioria dos ‘candidatos’ a anticancerígenos esbarra: exterminam as células danosas, mas são extremamente tóxicos para as células saudáveis”, explica o farmacêutico Paulo Roberto Ribeiro Costa, coordenador da pesquisa.

Em busca de um composto ainda mais ativo, os pesquisadores decidiram elaborar uma nova molécula, que reunisse propriedades da substância recém-sintetizada e do lapachol, molécula encontrada nas raízes do ipê roxo que já foi utilizada como anticancerígeno, mas apresenta alto grau de toxicidade para o organismo. A elaboração do novo composto permitiu potencializar os efeitos benéficos das duas moléculas e reduzir as desvantagens do medicamento, como indicaram os testes in vitro , realizados em culturas de células leucêmicas.

O Laboratório de Química Bioorgânica da UFRJ está preparando maior quantidade do novo composto, batizado pterocarpanoquinona. Os pesquisadores estimam que, em um mês, serão iniciados os testes in vivo , em camundongos com leucemia. Até o final do ano, eles conhecerão a eficácia do tratamento e o grau de toxicidade da substância. Esse passo é essencial para a realização de testes em animais maiores ou seres humanos, que devem avaliar também os efeitos colaterais gerados pela medicação.

Embora a nova molécula tenha sido sintetizada no âmbito de um amplo projeto com fins acadêmicos que envolve vários pesquisadores , o grupo pretende aprimorar a substância para o uso clínico e patentear o composto. Pode levar anos, porém, para a chegada do medicamento ao mercado. “Isso vai depender de parcerias com a indústria ou órgãos do governo”, ressalta o químico Alcides José Monteiro da Silva, da equipe do NPPN. “A Universidade deve apontar os caminhos, mas não tem infra-estrutura para produzir os medicamentos.”

Catarina Chagas
Ciência Hoje On-line
24/06/04