Caçadores de fungos

Entre os cerca de 5 milhões de espécies de fungos que se estima existirem no planeta, somente 100 mil foram descritas até hoje. A ‘caça’ dos especialistas em micologia – área que estuda esses seres vivos – não se limita à procura por eles na natureza: inclui a pesquisa em laboratório para confirmar se os exemplares coletados em campo pertencem a uma nova espécie. Seguindo esse protocolo, após anos reunindo e estudando espécimes em diferentes locais do país, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) descreveram 10 novas espécies de fungos só neste ano. Parte dos resultados foi publicada na revista Phytotaxa.

Todas as espécies descobertas são macrofungos, que se caracterizam por suas estruturas reprodutoras – como cogumelos e orelhas-de-pau – visíveis a olho nu. “Uma delas, a Marasmius magnus, foi encontrada por Altielys Magnaco e Jadson S. de Oliveira em lagoas de Florianópolis (SC) e no morro Santana, em Porto Alegre (RS)”, conta a bióloga Maria Alice Neves, do Laboratório de Micologia (Micolab) da UFSC e coordenadora das pesquisas. “A Gloeocantharellus aculeatus foi achada por Fernanda Linhares, Pablo Daniëls e por mim tanto na capital catarinense quanto na Reserva Biológica Augusto Ruschi, no Espírito Santo. Já as espécies Clavaria diverticulata, Clavulinopsis dimorphica e Clavulinopsis imperata foram coletadas por mim e por Ariadne Nôbrega Furtado em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul em áreas de floresta atlântica”, esclarece Neves.


Da esquerda para a direita: Clavaria diverticulata, Clavulinopsis dimorphica e Clavulinospsis imperata.
(fotos: Maria Alice Neves e Ariadne Nôbrega Furtado)

Segundo a bióloga, embora não se saiba hoje se as novas espécies terão aplicações no futuro, é preciso lembrar que os fungos são extremamente benéficos para nós e para o ambiente, ao garantir a coesão da matéria orgânica que dá estabilidade aos solos e interagir com as raízes de plantas para melhorar o crescimento das florestas.

“Além disso, os fungos são essenciais porque estão entre os principais decompositores de matéria orgânica, disponibilizando os nutrientes resultantes desse processo a outros seres vivos”, acrescenta Neves, destacando o papel ecológico desses organismos. “O fato de estarmos indo a campo e descobrindo espécies novas significa que, em muitas paisagens naturais que vêm sendo transformadas em áreas construídas, há uma rica diversidade ainda desconhecida e que pode estar sendo perdida.”

 

Alicia Ivanissevich
Ciência Hoje/ RJ