Cães poderiam inferir significado de palavras desconhecidas

Populações Cachorros talvez sejam capazes de associar palavras a objetos específicos, sugere estudo do Instituto Max-Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha. Experimentos feitos com o cão Rico, da raça border collie , mostraram que ele pode inferir o significado de palavras desconhecidas por um processo de exclusão.

Rico começou a ser treinado por seus donos quando tinha dez
meses de idade. Hoje, aos 9 anos, reconhece o nome de 200
itens, como banana, panda e Sr. Green (foto: Susanne Baus)

A habilidade de Rico, chamada pelos especialistas de fast mapping (’mapeamento rápido’, em inglês), pode ser verificada em crianças quando aprendem a falar: entre uma série de objetos, elas identificam aqueles cujos nomes já sabem e concluem que a nova palavra refere-se ao objeto que ainda não tem nome.

Nenhum estudo anterior, no entanto, havia observado essa capacidade em animais. “Vimos Rico em um programa de TV há quatro anos. Diziam que o cachorro conhecia cerca de 80 objetos pelo nome e quisemos verificar se era verdade”, conta à CH On-line Juliane Kaminski, uma das responsáveis pela pesquisa, publicada na Science de 10 de junho.

O primeiro teste avaliou a capacidade de Rico identificar objetos conhecidos. Os itens foram divididos aleatoriamente em 20 grupos de 10. Em cada sessão, um grupo era colocado em uma sala e o dono do cachorro lhe pedia para buscar dois objetos, um de cada vez. Rico não podia ver o dono enquanto procurava o que lhe foi pedido e, a cada acerto, recebia uma recompensa em comida ou brincadeiras. O cão buscou corretamente 37 dos 40 itens solicitados.

Para testar sua capacidade de inferir o significado de novas palavras, os pesquisadores colocaram, em uma sala, um objeto desconhecido junto com sete itens familiares ao cachorro. Rico acertou sete dos dez novos objetos solicitados pelo dono, o que pode indicar que o animal, sabendo que os outros brinquedos já possuíam nomes, deduziu que a palavra desconhecida se referia ao novo objeto.

Um mês depois, novos testes foram feitos para verificar se o cachorro podia guardar o conhecimento adquirido. Nesse período, Rico não teve contato com os objetos que fizeram parte da experiência. Cada um dos ’novos’ itens foi misturado a quatro brinquedos familiares e quatro totalmente desconhecidos. O cão buscou corretamente três dos seis itens solicitados, numa performance equivalente à de uma criança de três anos.

O estudo mostra que Rico é capaz de associar palavras a objetos específicos, mas ainda não é possível estender o mérito a outras raças ou mesmo a outros border collies . “Não sabemos se Rico é um ’gênio’ entre os cachorros ou se os outros apenas não foram treinados para isso”, explica Kaminski. O artigo lembra, porém, que cães são animais especialmente adaptados ao convívio com humanos, o que pode explicar por que o fast mapping foi identificado neles antes de ser observado em chimpanzés ou outros primatas.

“Nosso próximo projeto é verificar se cachorros são capazes de entender frases inteiras”, conta Julia Fischer, também envolvida no projeto. Segundo a pesquisadora, a comparação com outros animais pode esclarecer os processos pelos quais os humanos assimilam a linguagem. “Os mecanismos de aprendizagem das crianças, descritos como complexos, podem ser mediados por operações cognitivas simples estabelecidas antes mesmo de começar a falar”, comenta.

Clique aqui para assistir a um vídeo do experimento em que Rico
infere o significado de uma palavra desconhecida. Após pedir que o
cão traga dois objetos familiares – o dinossauro azul e a boneca
vermelha -, o dono usa uma palavra desconhecida para pedir que Rico
traga o coelho branco (vídeo: Julia Fischer – formato Quicktime, 1,76 MB)

Catarina Chagas
Ciência Hoje On-line
14/06/04