Capim energético

Trazido para o Brasil com a função de alimentar o gado, o capim-elefante – uma gramínea que se adaptou bem aos nossos solos e clima – floresce em um novo campo: a produção de energia. Já usada por algumas empresas no Brasil para esse fim, a espécie agora é alvo de estudos no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) e na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para obtenção de variedades mais produtivas, resistentes e adaptadas às diferentes regiões brasileiras.

Planta perene e com alta taxa de produtividade, a espécie se desenvolve melhor em regiões quentes e com chuvas mais abundantes. “A primeira colheita do capim-elefante pode ser feita por volta de seis meses após o plantio, menos tempo que outras espécies utilizadas na produção de biomassa”, afirma Vicente Mazzarella, engenheiro do IPT, que estuda há mais de vinte anos os usos e características do capim-elefante. “A cana-de-açúcar, por exemplo, tem seu primeiro corte feito um ano e meio após o plantio; já o eucalipto tem ciclo de sete anos”.

Por ser muito produtivo, o capim-elefante necessita de áreas menores para plantio, o que possibilita que seja cultivado mais perto dos locais de seu destino final, gerando assim economia no transporte. Outro benefício é que a espécie pode ser plantada em solos pobres em nutrientes. “Além disso, ela é capaz de recuperar, com o tempo, solos degradados”, comenta Mazzarella.

Transformando capim em energia

A principal utilização energética do capim-elefante é a queima de biomassa para a produção de energia térmica. O capim pode também ser transformado em carvão ou, depois de passar por um processo de compactação, em ‘lenha ecológica’, formato propício não só para a queima, como também para a estocagem.

A principal utilização energética do capim-elefante é a queima de biomassa para a produção de energia térmica

“O capim-elefante serve ainda como matéria-prima para a produção de etanol celulósico (etanol de 2ª geração), biocombustível gerado a partir da extração e fermentação do açúcar da celulose”, explica Mazzarella. “Outra forma de uso é sua transformação em energia termoelétrica, abastecendo caldeiras e gerando vapor, que movimenta turbinas e aciona  geradores”. Atualmente, o IPT desenvolve um projeto de produção local de capim-elefante na cidade de Panorama, São Paulo, onde é utilizado na secagem e queima de cerâmicas.

O futuro do capim-elefante

Para a engenheira e pesquisadora da Embrapa Agroenergia Marcia Mitiko Onoyama, o potencial do capim-elefante na produção de energia aqui no Brasil é grande. No entanto, ainda são necessários estudos econômicos sobre a produção de energia a partir desta fonte. “É preciso ainda realizar projetos-piloto que envolvam o estabelecimento de condições de manejo e práticas de colheita e pós-colheita, como secagem, armazenamento e transporte”, pondera.

Capim-elefante
O capim-elefante, bem adaptado aos nossos solos e climas, cresce rapidamente e permite até duas colheitas por ano. (foto: Forest and Kim Starr / CC)

De acordo com pesquisadores envolvidos no empreendimento, características como elevada relação carbono/nitrogênio, poder calorífico elevado e maior eficiência na fixação biológica de nitrogênio atmosférico devem ser desenvolvidas para otimizar o uso energético do capim.

A Embrapa Gado de Leite realiza, desde 1991, pesquisas em melhoramento genético do capim-elefante para uso forrageiro. Com o objetivo de desenvolver novas variedades especificamente para produção de energia, estabelece-se uma nova linha de pesquisa. O produto final é diferente: para alimentar o gado, o desejável é uma biomassa rica em proteína que tenha, portanto, baixa relação carbono/nitrogênio; para aproveitar o material como combustível, o que se busca é justamente o contrário.

“No Brasil e no mundo, há necessidade de ampliar a oferta de energia disponível para atender o consumo doméstico, indústrias, transportes, agropecuária e outras atividades econômicas. Do capim-elefante pode vir ao menos parte dessa energia complementar necessária, evitando a ampliação do uso de petróleo e derivados”, aposta Onoyama.

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Everton Lopes
Ciência Hoje On-line