Carbono contabilizado

O cálculo do carbono emitido pela indústria é feito a partir de uma avaliação detalhada de seu processo de produção e dos insumos usados que demandam consumo de energia.

As emissões de gás carbônico pela atividade industrial são uma das principais causas da poluição atmosférica. Diante disso, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um método para calcular a quantidade de gás carbônico emitida pelas indústrias e apontar maneiras de neutralizar essas emissões, por meio do plantio de árvores ou da adoção de tecnologias que liberem menos gases poluentes.

Para fazer o cálculo, uma equipe multidisciplinar, composta por engenheiros, biólogos e matemáticos, avalia minuciosamente o processo de produção industrial e identifica os insumos (matéria-prima, maquinário etc.) empregados que demandaram o uso de energia. Ao final, o grupo calcula a quantidade de carbono emitida – em toneladas – em função do total de energia utilizado. Segundo o engenheiro florestal Márcio Nahuz, coordenador do projeto, “é preciso traçar limites para cada item analisado, ou seja, reconhecer até que ponto o uso daquele insumo influenciará o total de energia”.

Após a quantificação, a equipe propõe às indústrias alternativas para neutralizar as emissões de carbono, por meio do uso de energia limpa ou do plantio de árvores. A partir da análise profunda do processo produtivo, é possível eliminar insuficiências e desperdícios e, assim, reduzir o uso dos recursos naturais. A adoção de matérias-primas que poluem menos o ambiente também é recomendada. “O uso de materiais biodegradáveis e a reciclagem de resíduos, por exemplo, são mudanças no processo produtivo que diminuem a poluição do meio ambiente”, cita Nahuz.

O benefício de uma árvore plantada
O engenheiro florestal e sua equipe também aconselham o plantio de árvores, já que, através da fotossíntese, a árvore absorve gás carbônico e produz oxigênio e glicose. Para saber quantas árvores devem ser plantadas, calcula-se, primeiramente, a sua massa. Em uma árvore com tempo médio de vida de vinte anos e aproximadamente 30 centímetros de diâmetro, por exemplo, geralmente 50% da massa são constituídos por carbono, taxa que equivale à capacidade de fixação desse elemento pela árvore. Depois, basta dividir a quantidade de carbono que se deseja neutralizar pela quantidade fixada pela árvore para se obter o número de árvores a serem plantadas.

Nahuz explica que as características climáticas e do solo devem ser levadas em conta para que a árvore ali plantada possa se desenvolver sem problemas. “Há espécies que são apropriadas para climas mais secos, outras para climas mais úmidos. Por isso, não adianta plantar qualquer árvore em qualquer lugar”, alerta. O pesquisador também ressalta a importância do plantio de árvores cujo processo de crescimento seja mais acelerado, pois essa característica aumenta o seqüestro de gás carbônico.

As empresas que adotarem as medidas sugeridas pelo IPT não obterão nenhuma espécie de benefício ou isenção fiscal. “A empresa não é obrigada a fazer o que sugerimos, mas acredito que seja uma ótima forma de marketing positivo, já que atualmente a questão ambiental está em alta e é extremamente importante demonstrar consciência ecológica”, comenta Nahuz.

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
05/10/2007