Cavernas abrigam riqueza desconhecida

Centenas de novas espécies de animais típicos de cavernas foram achadas por um pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O biólogo Rodrigo Lopes percorreu 113 ambientes cavernícolas em todo o Brasil para estudar modos de conservação de ecossistemas e criar um índice de complexidade para a preservação de espécies.

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O opilião acima, encontrado em uma caverna de Nova Lima (MG), é uma
das centenas de novas espécies recém-descobertas (foto: Rodrigo Lopes)

 

O objetivo principal da tese de doutorado de Rodrigo, defendida em junho, era encontrar meios de conservação da complexidade de grandes ecossistemas, como florestas. Ele explica que seria praticamente impossível realizar esse estudo em áreas de matas extensas, devido à enorme quantidade de variáveis ambientais que afetam esses locais. “As cavernas serviram como modelos de laboratórios de pesquisas ecológicas e de conservação, pois apresentam essas mesmas variáveis em menor número e espaço delimitado”, esclarece.

Para a criação de um índice de complexidade que servirá de base para a elaboração de planos de conservação de espécies, o pesquisador assinalou em um mapa das cavernas estudadas todas as ocorrências dos espécimes encontrados. Três dados básicos foram analisados: quantas espécies existiam, o tamanho relativo de cada população e o espaço por eles ocupado na caverna. “Pudemos então estudar o potencial de interação das espécies achadas, dado importante para sua preservação.”

Foi durante a coleta de dados que foram achadas as novas espécies de artrópodes classificadas nos três grupos de animais que habitam as cavernas: os troglófilos, capazes de completar seu ciclo de vida dentro ou fora desses ambientes, os troglóxenos, que saem freqüentemente para se alimentar, e os troglóbios, restritos ao ambiente cavernícola.

Grande parte das espécies descobertas serão analisadas para futura descrição. Mas Rodrigo destaca duas já em estudo: a primeira é um opilião, aracnídeo de pequenas dimensões. Caracterizado como um troglóxeno, o animal foi encontrado em uma caverna em Nova Lima (MG) e classificado no gênero Goniosoma . “Ele costuma habitar ambientes úmidos e sombreados, tem os olhos desenvolvidos e é bem colorido”, afirma o pesquisador. “Essas características anatômicas ajudam-no a viver dentro e fora das cavernas.”

A segunda espécie é de um outro troglóbio, um aracnídeo da ordem Palpigradi encontrado na Gruta de Maquiné, em Cordisburgo (MG). Rodrigo esclarece que esse animal, do gênero Eukoenenia , por habitar exclusivamente cavernas (ambientes escuros e úmidos), é quase cego, apresenta pernas compridas e corpo despigmentado e alongado. O biólogo comenta ainda que os adultos dessa espécie têm, no máximo, 3 milímetros. “Com quase quatro milímetros, este pode ser o maior Palpigradi registrado no mundo.”

As novas espécies dão uma idéia do grande desconhecimento da ciência sobre a fauna cavernícola. Rodrigo lembra que apenas 3 mil cavernas (ou 5% do total de cerca de 60 mil) em todo o território brasileiro são registradas atualmente, segundo a Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE). “Das 3 mil cavernas registradas, só 300 foram estudadas do ponto de vista biológico, e a maioria das pesquisas se restringiram a realizar levantamentos de fauna.”

 

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
17/08/04