Celular sem perigo

 

O assunto ainda gera dúvida: a radiação emitida pelo telefone celular causa danos à saúde? Para acabar com a suspeita, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizaram um estudo a fim de detectar os possíveis efeitos da radiação sobre as células humanas durante o uso do aparelho. Os resultados trazem um alívio para os usuários: nenhuma alteração nos cromossomos foi identificada durante os testes.
 
Segundo a pesquisadora responsável pelo estudo, a bióloga Juliana Heinrich, há um limite internacionalmente estabelecido para absorção de radiação que é de dois watts por quilo de massa corporal (W/kg). Antes de serem comercializados, os aparelhos celulares passam por testes de segurança que verificam esse limite. “Todos eles apresentam entre 1,5 e 1,6 W/kg”, diz Heinrich.
 
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O efeito da radiação dos celulares foi testado com um software que identifica cada cromossomo com cores diferentes e acusa alterações no material genético.

Durante o teste feito no Laboratório de Citogenética e Cultivo Celular da Unicamp, a equipe analisou células de sangue doadas por voluntários. Estas foram expostas a diferentes níveis de radiação não-ionizante – a mesma emitida pelos celulares – durante 72 horas. “Este é o tempo necessário para os linfócitos se dividirem, expondo mais o DNA e, portanto, com maior chance de sofrerem alterações”, afirma a pesquisadora.

 
Para verificar de forma detalhada o efeito da radiação sobre as células estudadas, os pesquisadores utilizaram pela primeira vez no Brasil um software capaz de identificar os 23 pares de cromossomos, incluindo os sexuais X e Y, em cores diferentes. “O programa conhecido como SKY [a sigla em português significa cariotipagem espectral] demonstra por meio da mistura de cores quando há troca de segmento cromossômico, ou seja, alteração no material genético”, explica a bióloga. “Essas ‘quebras’ e trocas nos cromossomos estão presentes em 90% dos tumores e em outras patologias como mal-formações no feto.”
 
A equipe monitorou níveis de radiação não-ionizante abaixo e acima da medida limite estabelecida internacionalmente. “Verificamos que a irradiação de até 2 W/kg de massa corporal não gerou qualquer modificação na estrutura genética das células de sangue testadas”, afirma Heinrich. “Porém, quando aplicamos um valor dez vezes superior a esse limite, identificamos alterações no DNA que agora iremos estudar melhor.”
 
Esse resultado indica que o nível de radiação emitido pelos celulares não mexe na estrutura dos cromossomos, onde o DNA está organizado. “A princípio, não há motivos de grande preocupação por parte dos usuários”, afirma a bióloga. “Também não encontramos evidências conclusivas nesse sentido nos trabalhos já publicados sobre o tema que analisamos em nosso estudo.”
 

No entanto, a pesquisa não avaliou os possíveis efeitos da radiação em períodos mais longos de exposição. “Seria necessário um estudo que analisasse um usuário de telefone durante vinte ou trinta anos”, diz Heinrich. Segundo a pesquisadora, essa preocupação não é infundada: ”assim como hoje conhecemos o câncer de pele causado pelo excesso de exposição aos raios solares, não podemos descartar essa possibilidade”.

Mário Cesar Filho
Ciência Hoje On-line
27/01/2006