Concluída no último domingo, 9 de outubro, a segunda edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia surpreendeu os organizadores pelo grande sucesso alcançado em todo o país. O número de atividades triplicou em comparação ao ano passado, segundo dados do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Ao todo, foram 6.710 atividades realizadas em 333 cidades brasileiras, com destaque para os estados de Ceará e Rondônia.
Aluno observa reproduções de dinossauros em tenda montada em campus da UFRJ (foto: Fábio Portugal/UFRJ)
O evento envolveu professores, funcionários e alunos nas atividades ligadas à ciência, tornando o assunto atraente até para pessoas desinteressadas. “Aprender física na prática nos faz gostar mais de ciência”, resume a estudante carioca Márcia Paula Macedo, de 18 anos, que participou do experimento do equilíbrio dos barcos sob a superfície da água, uma das atividades promovidas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na tenda montada no campus da Praia Vermelha.
Como Márcia, centenas de espectadores observaram fósseis de peixes pré-históricos, aprenderam como construir pequenas embarcações, além de conhecerem o software que permite ao deficiente visual utilizar um microcomputador. Diante dos experimentos interativos da Casa da Ciência/UFRJ, a pequena Yasmin, de apenas 5 anos, descobria um mundo repleto de novidades, como o gerador de Van de Graaff, uma esfera metálica carregada eletricamente que arrepia os cabelos daqueles que a tocarem.
Assim como a UFRJ, dezenas de outras instituições de ensino e pesquisa, como as universidades de São Paulo e Brasília (USP e UnB) ou as federais de Minas Gerais e Santa Catarina (UFMG e UFSC), abriram suas portas para milhares de visitantes, a maioria estudantes, que participaram de oficinas, debates, palestras e exposições. No total, a semana mobilizou 843 instituições, entre escolas, universidades, centros de pesquisas, empresas e órgãos governamentais.
Mas a ciência estava além dos centros de pesquisa. Ela podia ser vista na praia, no trem, no parque, nas barcas e em tantos outros espaços públicos. No Rio de Janeiro, enquanto, passageiros da estação de trem da Central do Brasil se encantavam com um planetário inflável, na praia do Leme muitos banhistas viam pela primeira vez um polvo vivo. Os organizadores estimam que cerca de cem mil cariocas participaram dos eventos integrados. “A idéia era atingir todas as pessoas, do empresário ao camelô”, diz a divulgadora Fátima Brito, uma das coordenadoras da semana no Rio. Em Belo Horizonte e Teresina (Piauí), por exemplo, algumas atividades aconteceram na rodoviária. Já em São José dos Campos, Salvador e muitas outras cidades, os shoppings serviram de espaços para o evento.
Professora explica processo de extração de DNA a consumidoras em supermercado de Curitiba. Clique na imagem para ler a cobertura completa dessa atividade.
(foto: Murilo Alves Pereira)
Supermercados também se tornaram templos da ciência durante a semana. Foi o que aconteceu em Curitiba, onde pesquisadores da Universidade Paranaense (Unipar) realizaram o projeto O DNA vai ao supermercado . Ao explicar o que é DNA e mostrar como ele pode ser extraído do morango, cientistas surpreenderam muitas donas de casa que faziam suas compras ( clique aqui para ler o relato completo dessa atividade).
O campeão em atividades mais uma vez foi o estado do Rio de Janeiro, com 1.151 no total, porém outros dois superaram as expectativas: Ceará e Rondônia. No primeiro, 59 cidades participaram do evento, o que mostra uma maior interiorização da Semana este ano. “Só na cidade de Sobral, no interior do Ceará, quatro instituições de ensino abriram suas portas e receberam milhares de estudantes”, afirma um dos coordenadores – Ricardo Costa, da Secretaria de Ciência e Tecnologia do estado, que este ano fez uma importante parceria com a Secretaria de Educação do Ceará, aumentando a participação das escolas públicas estaduais do interior do país.
Em Rondônia, outra prova de que a ciência pode chegar aos lugares não tão favorecidos quanto os centros urbanos foi que 28 cidades realizaram 329 atividades, entre elas oficinas e debates relacionados ao tema água, promovidos pelo Acqua Viva – Unir, um dos grupos de grande participação.
Para Vera Pinheiro, do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do MCT, a crescente integração da comunidade científica e tecnológica mostra que o evento tende a ser uma atividade permanente no calendário da ciência e tecnologia nacional, independente dos governos federal, estadual ou municipal. Mesmo diante da crise política e da greve que muitas universidades estão enfrentando, a Semana Nacional de C&T obteve importantes resultados graças à dedicação de milhares de brasileiros.
O MCT espera para o próximo ano uma participação ainda maior das secretarias estaduais de ensino e a criação de mais atividades interativas nas cidades brasileiras. Para 2006, a proposta dos organizadores é que o tema seja vinculado ao centenário do vôo do 14 bis. Além de ser um importante episódio para a humanidade, seu realizador, Santos-Dumont, tinha como lema a criatividade e a inovação: dois ingredientes fundamentais para progresso da ciência.
Mário Cesar Filho
Ciência Hoje On-line
11/10/05