Ciência com criatividade

 

Os bioquímicos Leopoldo De Meis e Vivian Rumjanek, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenam um projeto de ensino de ciências hoje difundido em dez universidades do país (Fotos: Marina Verjovsky).

A interação entre diferentes ramos do saber é essencial para a melhoria do ensino de ciências no Brasil. Pensando nisso, cerca de 130 estudiosos de diversas áreas se reuniram no 3º Simpósio de Educação em Ciência e Criatividade para dividir seus conhecimentos sobre temas como neurologia, astronomia, evolução, arqueomusicologia, antropologia, design e arte. O evento, que aconteceu de 28 a 31 de maio na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, foi coordenado pelos bioquímicos Leopoldo De Meis e Vivian Rumjanek, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Um dos principais pontos discutidos no Simpósio foram os resultados de um projeto de ensino de ciências organizado por De Meis e Rumjanek, que visa ensinar aos professores e alunos de escolas públicas brasileiras como a ciência é feita nos laboratórios e procurar jovens talentos de baixa renda para oferecer a eles uma oportunidade de inserção no meio científico. Iniciado há 18 anos, o projeto hoje é difundido em dez universidades do país. Durante o evento, os coordenadores locais discutiram as dificuldades encontradas na realização do projeto e procuraram formas de aperfeiçoá-lo, além de debater com os alunos sobre meios alternativos de ensinar ciência.

Em outra vertente, o Simpósio buscou promover uma discussão interdisciplinar sobre assuntos de interesse geral. A relação entre ciência e arte foi tema de um amplo debate que provocou polêmica, principalmente sobre as definições dessas áreas. A conclusão dos participantes foi que, independentemente de conceitos teóricos, a arte pode ser usada para tornar a ciência mais atrativa e interessante.

Os bonecos mamulengos foram apresentados no Simpósio como alternativa para tornar o ensino de ciência mais atrativo.

Com esse propósito, o bioquímico Leopoldo de Meis já lançou, junto com artistas, dois livros em quadrinhos ( O método científico e A 1ª lei da termodinâmica ) e dois filmes sobre ciência ( A mitocôndria em 3 atos e A contração muscular ). “Os meninos batem palmas e até choram no final dos filmes; não estão interessados em saber se é ciência ou arte. Nós também não estamos. Queremos fazer um trabalho bonito que os motive”, conta. Segundo ele, as pessoas se interessam pela ciência ensinada de forma prazerosa e os artistas podem ter um importante papel nessa atividade, pois sabem retratar o mundo de modo poético. Mas, para que isso seja possível, a ciência tem que fazer parte da vida dos artistas.

O Simpósio incluiu apresentações diversificadas, como um espetáculo teatral de artistas surdos e a exibição dos bonecos mamulengos de Fernando Limoeiro, que faz campanhas educativas no sertão nordestino. Os participantes ainda aprenderam com o astrônomo Germano Afonso, da Universidade Federal do Paraná, sobre constelações indígenas – inclusive com aulas práticas à noite, em volta da fogueira.

Os convidados do evento foram unânimes quanto ao sucesso da iniciativa, que promoveu uma importante troca de experiências e visões diferentes. Segundo o professor de cinema Heitor Capuzzo, da Universidade Federal de Minas Gerais, esse foi o início de um processo de “descondicionamento do olhar”. De acordo com os participantes, o diálogo enriquece as formas de fazer e pensar ciência e suscita novas maneiras de transmitir conhecimentos de modo acessível, eficaz e com emoção.

Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
13/06/2006